Em uma jornada rumo à descarbonização, o primeiro passo a ser dado por qualquer organização deve ser quantificar suas emissões de carbono. Nesse contexto, surgem como opções a Avaliação do Ciclo de Vida (ACV) e os inventários de carbono.
Ambas as ferramentas são estratégicas para quem quer estar alinhado com a agenda ESG (Environmental, Social and Governance) e com mudanças recentes, como a criação do mercado regulado de carbono.
O que é a Avaliação do Ciclo de Vida?
Dedicada a quantificar impactos em geral, não apenas carbono, a ACV analisa aspectos ambientais e impactos potenciais positivos e negativos, ao longo da vida de um produto ou serviço.
No caso das edificações, a avaliação de ciclo de vida abarca todas as etapas de produção e uso, desde a extração das matérias-primas que darão origem aos materiais de construção, passando pelas fases de projeto, obra e operação, até chegar ao fim da vida útil, à disposição final, reciclagem e reuso.

Qual é a diferença entre ACV e inventário de carbono?
Também conhecido como inventário de emissões de gases de efeito estufa (GEE), o inventário de carbono consiste em um processo de avaliação e quantificação das emissões, especialmente CO₂, associadas a uma determinada atividade, setor econômico, organização ou região geográfica.
O objetivo é identificar e quantificar as fontes de emissões de carbono, permitindo que medidas sejam tomadas para reduzi-las.
Atualmente, a metodologia de inventário mais utilizada é a do GHG Protocol, que classifica as emissões de carbono em três escopos.
- Escopo 1 — Aborda as emissões sobre as quais a empresa possui responsabilidade direta e controle.
- Escopo 2 — Inclui todas as emissões relacionadas ao consumo de energia.
- Escopo 3 — São emissões sobre as quais a empresa não exerce controle direto como, por exemplo, as geradas na fabricação dos insumos por seus fornecedores.
Adriana Hansen, diretora técnica de Sustentabilidade no CTE, explica que o GHG Protocol foca nos gases causadores de efeito estufa citados no Protocolo de Quioto.
Porém, esses não são os únicos causadores das mudanças climáticas. Ela destaca que, em função de suas características, os inventários de carbono são indicados para quantificar o impacto de carbono das empresas, ou seja, de CNPJs.
Na comparação com o inventário de carbono, a ACV possui um nível de profundidade científica maior.
“O inventário não tem a finalidade de avaliar todos os aspectos de uma atividade em relação a seus impactos ambientais. Seu objetivo é quantificar parte das ações envolvidas em relação ao carbono emitido, seguindo protocolos específicos. Por isso, a ACV acaba sendo mais adequada para compreender o impacto total de objetos ou serviços, como empreendimentos e obras”, esclarece Hansen.
Por que as empresas devem se mobilizar para produzir ACVs?
Muitos motivos justificam a aplicação das análises de ciclo de vida. Entre eles:
- Possibilidade de comparar o projeto proposto com a prática atual do mercado.
- Compreender e identificar quais são os maiores impactos ambientais de um projeto para estruturar ações de melhorias.
- Atendimento a questões regulatórias. Há órgãos e regulamentações que orientam a realização da ACV, como as leis de resíduos sólidos e de licitações, além de referenciais como a ISO 20400 (compras sustentáveis) e ISO 14001 (sistema de gestão ambiental), além do ISE (Índice de Sustentabilidade Empresarial). Ao permitir quantificar as emissões associadas a projetos, materiais e processos construtivos, a aplicação das ACVs, assim como dos inventários de carbono, é um passo fundamental para as empresas acessarem o recém-criado mercado regulado de carbono.
- Valorização dos ativos perante o mercado e comunicação com a sociedade. Negócios que têm sistemas de responsabilidade estendida implantados tendem a se posicionar melhor em um mercado cada vez mais rigoroso com questões relacionadas ao ESG.
- Obtenção de certificações ambientais. No caso do LEED, apenas o fato do projeto calcular os impactos por meio de uma ACV é suficiente para somar um ponto no processo de obtenção do selo.

Quais são as etapas de preparação de uma ACV?
A produção da ACV é regida por normas internacionais, como a ABNT NBR ISO 14040: Gestão ambiental – Avaliação do ciclo de vida. Ela envolve quatro etapas principais:
Definição de objetivo e escopo
Garante que o estudo seja claro, relevante e útil. É nessa etapa que são estabelecidas as fronteiras do sistema, ou seja, em que ponto deve começar e em que ponto deve terminar a ACV.
Esse limite pode ser “do berço ao túmulo”, quando se avalia o impacto ambiental de um produto, serviço ou processo em todas as etapas da sua existência.
Essa abordagem inclui desde a extração das matérias-primas (berço), passando pela fabricação, distribuição, uso e, por fim, o descarte ou reciclagem (túmulo).
A fronteira pode ser, ainda, do “berço ao berço” (cradle to cradle). Nesse caso, em vez de encerrar o ciclo de vida de um produto no descarte ou reciclagem, a ideia é ter um sistema circular, no qual os materiais são projetados para serem reutilizados indefinidamente, como em ciclos naturais.
Análise de inventário do ciclo de vida
É um procedimento sistemático, gradual e objetivo para quantificar os fluxos de matéria e energia no ciclo de vida.
Tais fluxos incluem as entradas de energia, água e matéria-prima e as saídas para o ar, terra ou água. Essa fase resulta em uma planilha que reúne uma grande variedade de dados que irão municiar a etapa seguinte.
Avaliação de impactos
Mede os efeitos ambientais, como emissões de dióxido de carbono (CO₂), toxicidade, uso de recursos naturais etc. Há diferentes métodos que permitem fazer esse estudo, incluindo softwares para a transposição dos dados.
A avaliação inclui a categorização dos efeitos e, frequentemente, pode demonstrar que o mesmo elemento gera diferentes tipos de impactos.
Emissões gasosas, por exemplo, podem não apenas afetar a camada de ozônio, como também contribuir para a mudança climática e para a formação fotoquímica de ozônio.
Interpretação
A ACV é concluída com a interpretação dos resultados e com as discussões sobre a avaliação de impactos em função do escopo do estudo.
Nesse momento é possível, também, identificar melhorias possíveis nos processos visando a redução de impactos ambientais.
O CTE atua em diferentes frentes, seja auxiliando os empreendedores no desenvolvimento de produtos com melhor desempenho ambiental, seja apoiando a indústria de materiais em suas jornadas para a redução de emissões.
Entre os serviços prestados está a elaboração de inventários de Gases Efeito Estufa das atividades corporativas e de construção, bem como o desenvolvimento de ACVs para produtos e empreendimentos.
Entre em contato para falarmos mais sobre as diferentes soluções para apoiar as empresas em suas jornadas de descarbonização!