Bastante conhecida em mercados mais desenvolvidos, como Estados Unidos, Canadá, Europa, Austrália e Japão, a madeira engenheirada vem adquirindo cada vez mais destaque no Brasil.
Isso se explica por uma série de motivos. O primeiro deles é o fato de se tratar de um material renovável, que captura carbono da atmosfera, contribuindo para a redução de emissões de carbono.
Além disso, essa tecnologia construtiva industrializada, composta por peças pré-fabricadas, permite alcançar um novo nível de racionalidade, eficiência e produtividade, bem como reduzir prazos de execução em até 50%.
A adoção da madeira engenheirada cresce, globalmente, em torno de 14% ao ano. No Brasil, onde o uso dessa solução ainda é incipiente, a presença da madeira engenheirada tende a aumentar diante de mudanças, como as geradas pela regulamentação do mercado de crédito de carbono.
A Lei n.º 15.042, sancionada em dezembro de 2024, define a obrigatoriedade de as empresas reportarem suas emissões a partir de 10 mil toneladas/ano e de reduzir emissões quando elas passarem de 25 mil toneladas/ano.
“Nesse contexto, uma solução como a madeira engenheirada contribui de várias maneiras, seja ajudando as empresas do mercado imobiliário a cumprirem suas metas de redução, seja permitindo a geração de créditos para serem comercializados”, comenta Adriana Hansen, diretora técnica de Sustentabilidade no CTE.
À frente do podcast “O Futuro das Cidades”, Adriana conversou com Nicolaos Theodorakis, fundador e CEO da Noah, empresa envolvida na construção de empreendimentos como a loja do McDonald’s, em operação no bairro do Paraíso, em São Paulo, e o residencial Arvoredo, na Vila Madalena, em execução, também na capital paulista.
O que é a madeira engenheirada?
O termo madeira engenheirada refere-se a uma série de produtos que, após a extração da madeira, são submetidos a tratamentos e processos industriais que vão desde tratamentos químicos em autoclave a plainas, cortes, aplicação de adesivos e escaneamento computadorizado.
Com isso, as peças, na forma de pilares, vigas e lajes, são capazes de conferir à obra um grau de precisão milimétrico semelhante ao da estrutura metálica.
Nesse amplo grupo destacam-se dois produtos aplicáveis em edifícios multipavimentos: o CLT (cross laminated timber) e o MLC (Glued Laminated Timber).

Por que usar madeira engenheirada?
Além de todo o aspecto ambiental, há outros motivos que justificam a expansão da madeira engenheirada no Brasil. Entre eles, Theodorakis destaca o enorme potencial do país para se tornar produtor e consumidor dessa solução.
Afinal, temos um solo muito propício para o crescimento rápido de espécies como pinus em florestas plantadas.
Adicionalmente, a madeira engenheirada responde bem à necessidade de conciliar a racionalização proporcionada pela industrialização com a construção de produtos autorais, com arquitetura e acabamentos sofisticados.
Muito valorizada por sua estética, a madeira se conecta muito bem com projetos e usuários que valorizam inovação, conforto e biofilia.
Há de se mencionar, ainda, as excelentes propriedades estruturais da madeira, que viabilizam, inclusive, a construção de edifícios altos. Nos Estados Unidos, por exemplo, há torres construídas em madeira engenheirada e núcleo de concreto com 25 pavimentos.
No hemisfério norte, aliás, a construção em madeira não se dá apenas pelo viés ambiental e pela diferenciação de produtos, mas também pela facilidade de montagem. “No Brasil, a adoção de sistemas industrializados, como a madeira engenheirada, é bastante pertinente diante da necessidade de ampliarmos a atratividade de mão de obra para a construção civil”, destaca Adriana Hansen.

Quanto custa construir com madeira engenheirada?
A competitividade da madeira engenheirada frente a outros sistemas estruturais varia em função da tipologia do produto imobiliário. Em empreendimentos corporativos, o custo já é equivalente ao de um projeto construído de maneira convencional.
“A redução de custos indiretos equilibra os custos. Sem contar que, ao abreviar o tempo de execução da obra, a TIR (taxa interna de retorno) dos projetos com madeira engenheirada é maior”, explica o CEO da Noah.
A conta muda, porém, quando falamos em empreendimentos residenciais. Nesse segmento, a comparação entre as tecnologias é mais desafiadora, porque ainda predomina o uso de sistemas construtivos rudimentares.
Além disso, o ganho de tempo de execução não se reflete, necessariamente, em um fator benéfico, especialmente em imóveis para venda.
“Para viabilizar o pagamento dos compradores de imóveis na planta, precisamos desenvolver, junto aos bancos, novas soluções de financiamento. O que é bastante viável, uma vez que, em uma economia volátil como a nossa, encurtar o tempo de obra significa diminuir o risco da incorporação e do banco financiador”, argumenta Theodorakis.
Quer saber mais sobre a madeira engenheirada? Clique aqui e confira, na íntegra, a conversa entre Adriana Hansen e Nicolaos Theodorakis no podcast “O Futuro das Cidades”.