A necessidade de descarbonizar a construção e a operação de edifícios tem induzido diferentes players do setor, em todo o mundo, a buscar alternativas que permitam reduzir o impacto ambiental provocado por essas edificações. Isso não ocorre sem razão. Afinal, somente a operação dos edifícios representa 28% das emissões globais de carbono.
Em alguns mercados, como na Europa e na Ásia, esse movimento está mais avançado, com estratégias mais ambiciosas e alinhadas às metas do Acordo de Paris, incluindo abordagens não usuais no Brasil.
Isso ficou claro em um evento recém-promovido pelo Enredes, com palestras de Chris Trott, partner e head de Sustentabilidade no Foster + Partners, e de Ibrahim Kronfol, consultor de sustentabilidade, gerente de design na DAR e fundador da Green Leaders.
A atividade fez parte da programação da Comunidade Técnica dedicada ao estudo de soluções de descarbonização e resiliência, composta por representantes de construtoras, incorporadoras, escritórios de projeto e consultoria, além de fornecedores de materiais.
Qual é o impacto do transporte na pegada de carbono de um edifício?
À frente de projetos em diferentes continentes, Chris Trott apresentou como o Foster + Partners vem trabalhando com o cálculo da pegada ecológica. A ideia é ir além da realização da análise de ciclo de vida, incorporando mais aspectos para identificar, com mais precisão, o real impacto dos projetos no meio ambiente.
“Na maior parte das vezes, a análise de ciclo de vida se limita a calcular o carbono daquilo que está no projeto, como estrutura e fachadas. Mas há uma série de outros impactos que também deveriam ser mensurados, desde os andaimes e as fôrmas para concreto, ao deslocamento dos usuários até o empreendimento”, comentou Trott.
Segundo ele, sobretudo o impacto do transporte deveria ser considerado na hora de um empreendedor escolher um terreno para construir.
Para ilustrar, ele citou um estudo realizado para a construção da nova sede da companhia de energia Acciona, em Madri, Espanha. Nesse projeto, a estrutura contribui com 0,8 toneladas de carbono incorporado por metro quadrado no inventário global do edifício. Já o deslocamento dos usuários até o prédio implica em um acréscimo de 2,2 toneladas de carbono incorporado por metro quadrado, considerando que 44% dos usuários utilizam carro.
Esse valor poderia ser 38% menor se todos os ocupantes utilizassem transporte público. “Em contrapartida, se mudássemos esse edifício para outro lugar mais afastado do centro, onde há maior dependência do transporte individual, a representatividade do transporte subiria para 4,4 toneladas por metro quadrado”, comparou Trott.
Estratégias para reduzir o carbono incorporado
A necessidade de reduzir a emissão de carbono dos edifícios tem gerado dois movimentos positivos: a redução do consumo de combustíveis fósseis e a maximização da eficiência energética dos edifícios.
“Com isso, o carbono incorporado, em comparação ao carbono operacional, tende a se tornar cada vez mais representativo na pegada de carbono da construção civil”, explica Adriana Hansen, diretora técnica de Sustentabilidade do CTE. Segundo ela, estima-se que, em um horizonte de dez anos, as emissões de carbono incorporado representem 50% do total de emissões das edificações. Daí a necessidade urgente de aumentar os esforços para combater essas emissões em escala global.
Para isso, a maneira de projetar precisa mudar, incorporando soluções que permitam ampliar a vida útil dos edifícios ou reutilizar seus componentes, bem como selecionando materiais regionais, com conteúdo reciclado e que favoreçam a saúde e o bem-estar dos ocupantes. “Se formos cuidadosos com a especificação, conseguimos reduzir mais da metade da pegada de carbono incorporada aos materiais”, afirma Trott.
“Reduções significativas de emissões também podem ser obtidas se olharmos com mais atenção para os sistemas mecânicos, elétricos e hidráulicos”, explicou Ibrahim Kronfol.
O problema, segundo ele, é que os estudos de ciclo de vida normalmente ignoram esses sistemas, que têm alto impacto no aquecimento global, seja porque são intensivos no uso de aço, seja porque estão presentes em grande volume nos edifícios.
Além disso, faltam informações sobre os impactos desses produtos, especialmente Declarações Ambientais de Produto, em inglês, Environmental Product Declarations (EPDs). Esses documentos apresentam, com clareza e objetividade, o desempenho ambiental de produtos, tomando como base normas internacionais, como a ISO 14.025.
Uma boa notícia é que já há metodologias para calcular o carbono incorporado nos sistemas de instalações prediais hidráulicas e elétricas, de aquecimento e refrigeração e de combate a incêndio, por exemplo.
Estudos realizados por Kronfol a partir dessas calculadoras mostraram o quão relevantes são os sistemas mecânicos, elétricos e hidráulicos para reduzir as emissões dos edifícios.
Em um edifício de escritórios, somente os sistemas de refrigeração, aquecimento e o gás refrigerante representam entre 60 e 77% das emissões totais. A rede de sprinklers, por sua vez, tem uma participação de 25% nas emissões. Já os sistemas de elétrica e telecom representam de 9 a 14% do CO₂ incorporado. “Se considerarmos um edifício que emita 100 quilos de CO₂/m², o impacto desses sistemas nas emissões globais do empreendimento ficará entre 10 e 23%”, sintetizou Kronfol.
Diante de um impacto tão grande, como agir para reduzir o carbono incorporado nessas instalações e equipamentos?
O primeiro passo, segundo Kronfol, é pensar na descarbonização desde as etapas iniciais de concepção, quando há mais oportunidades de atuar. Outras estratégias importantes, na visão do especialista são:
- Utilizar fluidos refrigerantes com menor Potencial de Aquecimento Global (GWP)
- Buscar medidas de resfriamento e aquecimento passivos e a ventilação natural
- Simplificar os sistemas e seus componentes e utilizar menos materiais
- Projetar de modo a facilitar reparos e a substituição
- Priorizar materiais duráveis, que atendam a critérios de aquisição verde
- Dar preferência ao design modular e aos componentes pré-fabricados
- Rever os padrões de conforto
- Buscar inovações, incorporando materiais mais sustentáveis e eficientes.
Quando falamos em descarbonização de edifícios, a abordagem mais profunda e detalhada sobre os impactos — visível nos trabalhos de Trott e de Kronfol — é uma forte tendência e, também, uma necessidade.
“A mudança no clima é um importante desafio que estamos enfrentando no momento, mas não é o único. Então, precisamos abordar o impacto ambiental de modo mais amplo, em todo o ciclo de vida”, comenta Adriana Hansen.
Com a expertise de quem impulsiona transformações positivas no mercado há mais de trinta anos, o CTE desenvolveu uma ampla gama de serviços integrados para apoiar seus clientes em suas jornadas visando a neutralidade das emissões de carbono. Entre em contato para discutirmos como podemos auxiliar sua organização na jornada rumo à sustentabilidade e à neutralidade de carbono.