O debate sobre os impactos gerados durante a construção e a operação dos edifícios adquire cada vez mais maturidade no Brasil. Um indicador é o protagonismo crescente assumido pelas certificações ambientais de sustentabilidade.
Os selos verdes permitem às empresas se apoiarem em critérios objetivos para evitar o green washing (maquiagem verde) e as autoalegações.
Ao mesmo tempo, por preverem a verificação por uma terceira parte, eles adicionam credibilidade e permitem aos consumidores avaliar e comparar produtos, empresas e empreendimentos.
Quais são os benefícios proporcionados pelas certificações ambientais?
As certificações ambientais consistem em sistemas de avaliação de sustentabilidade que adotam critérios públicos pré-estabelecidos. Além dos ganhos ambientais e redução da pegada de carbono, elas garantem uma série de outros benefícios, como:
- Redução de custo operacional decorrente do uso mais racional de água e energia;
- Diminuição de taxas de vacância. Edifícios certificados são ativos mais competitivos perante seus concorrentes;
- Diferenciação de produto em função da credibilidade conferida por uma certificação de terceira parte;
- Qualidade ambiental, impactando positivamente a saúde e o bem-estar dos ocupantes;
- Acesso a incentivos financeiros, seja por meio de condições de financiamento mais favoráveis, seja por descontos em impostos concedidos por algumas prefeituras.
A evolução das certificações ambientais
No Brasil, o movimento de certificação de edifícios começou em 2006, quando uma incorporadora norte-americana que certificava seus empreendimentos no exterior pelo processo LEED (Leadership in Energy and Environmental Design) demonstrou interesse em certificar seus ativos por aqui.
Tal demanda motivou a formação de um time de consultoria no CTE e a criação das primeiras metodologias para auxiliar o processo de certificação.
No início, a ideia era buscar a certificação como um diferencial de mercado, especialmente para empreendimentos comerciais de alto padrão (triple A) em São Paulo e no Rio de Janeiro.
Com o passar dos anos, esse movimento se intensificou e se espalhou para outras tipologias e localidades. Hospitais, arenas esportivas, data centers, shoppings, galpões logísticos e empreendimentos residenciais passaram a ser certificados em todo o país.
A adesão do mercado brasileiro às certificações ambientais fica evidente quando constatado que o país é, atualmente, a quinta nação no mundo em número de empreendimentos certificados pelo LEED.

Certificações ambientais multiatributos
Os principais referenciais de sustentabilidade aplicados a edifícios podem ser divididos em dois grandes grupos. O primeiro é composto pelas certificações multiatributos, que como o próprio nome indica, são mais abrangentes.
Esses referenciais se voltam para a redução de impactos ambientais, para a diminuição de custos operacionais e para a garantia de qualidade ambiental. As principais certificações desse tipo são o LEED, o AQUA-HQE, o GBC Casa e Condomínio e o EDGE.
LEED (LEADERSHIP IN ENERGY AND ENVIRONMENTAL DESIGN)
Trata-se do sistema de certificação de edificações mais utilizado em todo o mundo. Criado pelo United States Green Building Council (USGBC), o LEED prevê o atendimento a itens mandatórios (pré-requisitos) e a obtenção de créditos opcionais.
À medida que o projeto soma créditos, recebe uma pontuação que definirá seu nível de certificação. É possível obter o selo em quatro níveis: Certified, Silver, Gold e Platinum.
O LEED é uma certificação holística, que leva em conta a integração do edifício com o entorno. O processo também avalia estratégias para redução do consumo de água e de energia, bem como considera a qualidade ambiental dos espaços construídos.
Há quatro tipologias principais de selos LEED: BD+C (para novas construções), ID+C (design de interiores), O+M (edifícios existentes) e ND (bairros).
Mais recentemente, foram criadas, também, as certificações LEED Zero, que atestam o cumprimento de metas líquidas zero em edifícios existentes.
A certificação LEED Zero possui diferentes vertentes dedicadas à neutralização de impactos específicos: Energy (energia), Water (água), Carbon (carbono) e Waste (resíduos).
AQUA-HQE
Desenvolvido a partir da certificação francesa Démarche HQE, o AQUA foi adaptado à realidade brasileira pela Fundação Vanzolini em parceria com a Escola Politécnica da USP. Ele é aplicável a empreendimentos residenciais e não residenciais, bem como para construção e operação.
O AQUA-HQE analisa múltiplos aspectos, como a relação do edifício com o entorno, as ações voltadas para o canteiro de obras, bem como a gestão de energia, de água e de resíduos. Há dois ciclos de certificação: construção (para edificações novas) e operação (para edificações existentes).
Em ambos os casos, o empreendimento é examinado e classificado por dois referenciais técnicos: o Sistema de Gestão do Empreendimento e a Qualidade Ambiental do Edifício. Uma particularidade do AQUA é ter uma auditoria presencial.
GBC CASA E GBC CONDOMÍNIO
As duas certificações foram desenvolvidas pelo GBC Brasil para apoiar a construção de residências de alto desempenho ambiental.
O GBC Casa (para habitações unifamiliares) e o GBC Condomínio (para construções multifamiliares) avaliam implantação, eficiência energética e hídrica e a qualidade ambiental interna. A estrutura das certificações é semelhante à do LEED, com créditos e pré-requisitos mandatórios.
EDGE (EXCELLENCE IN DESIGN FOR GREATER EFFICIENCIES)
Criado em 2015 pela IFC (International Finance Corporation), braço privado do Grupo Banco Mundial, a certificação visa democratizar o acesso a edifícios sustentáveis em países emergentes, estimulando a descarbonização da indústria da construção.
Com crescimento exponencial no Brasil, esse processo é aplicável a todas as tipologias de projeto, incluindo residenciais, hospitais, edifícios de escritório e educacionais, comércio e hotéis.
Acessível e ágil, essa certificação se concentra em três áreas: energia, água e materiais. O objetivo do EDGE é simplificar o processo e focar esforços em ações prioritárias para reduzir o impacto ambiental dos edifícios.
Para um projeto receber o selo EDGE no nível Certified, é preciso comprovar redução de 20% no consumo de energia, de água e de energia incorporada, em comparação a um projeto de referência.
Para obter a certificação no nível Advanced, a redução deve ser, minimamente, de 40% em energia e de 20% em água e materiais.

Certificações ambientais para promoção de saúde e bem-estar
Também na categoria de certificações multiatributos estão aquelas voltadas à saúde e ao bem-estar dos ocupantes, como o Well e o Fitwel.
Edifícios saudáveis geram uma série de benefícios tangíveis para as empresas e para seus ocupantes. Eles conseguem elevar a saúde e a produtividade dos usuários, aumentar as taxas de atração e retenção de talentos, melhorar a reputação das empresas e reduzir o absenteísmo.
Sem contar que a adoção de estratégias focadas em saúde aumenta a atratividade dos edifícios e está alinhada aos princípios ESG (Environmental, Social and Corporate Governance).
WELL
Aplicável a edifícios novos e existentes, o WELL é um referencial global, presente em 98 países. Desenvolvida pelo International WELL Building Institute (IWBI), a certificação aborda mais de 200 estratégias de design e operação para produzir impacto positivo na saúde das pessoas.
O processo de certificação prevê submissão de documentação, verificação de performance pelo organismo certificador e, por fim, obtenção da certificação.
Há uma auditoria presencial que analisa uma série de testes, como parâmetros relacionados à qualidade da água e do ar. A certificação deve ser renovada a cada três anos.
FITWEL
O Fitwel é operado globalmente pelo Center for Active Design e está presente em mais de 180 países. Essa certificação foi criada por duas entidades norte-americanas: o Center for Disease Control and Prevention (CDC) e o General Services Administration (GSA) com base no trabalho de especialistas em saúde pública, gestão de instalações e design.
O selo coloca ênfase nos indivíduos que ocupam os espaços construídos e é aplicável a diferentes tipologias. O processo se estrutura em sete temas que contemplam mais de 70 estratégias que somam pontos quando implementadas.
Projetos que atendem 90 ou mais pontos, de um total de 144, são considerados certificados em um dos três níveis: 1, 2 ou 3 estrelas.
Todo o processo acontece via a plataforma online. Para garantir a certificação renovável a cada três anos, a equipe do projeto deve encaminhar documentos e evidências para a auditoria.
Saiba mais sobre as certificações ambientais para a construção
No artigo de hoje, apresentamos um breve overview sobre as principais certificações ambientais para edifícios. Se quiser saber mais detalhes sobre esses e outros processos de certificação, entre em contato conosco.
Prestamos consultoria para as mais diversas certificações ambientais e de sustentabilidade para a construção civil, trabalhando de forma integrada às diversas disciplinas de projeto, durante as etapas de concepção, obra e operação.
Hoje, no Brasil, há mais de 400 edifícios certificados por diferentes processos com o apoio da consultoria ou da auditoria do CTE. Tal marca nos credencia como a empresa brasileira de maior impacto ambiental positivo no setor da construção.