Compreendendo a acústica arquitetônica

Por Andrea Destefani*

A acústica arquitetônica é a área do conhecimento no campo da engenharia e da arquitetura que estuda como o som atua em diferentes ambientes construídos e como o projeto pode ser utilizado para controlar esse comportamento. Seu objetivo é garantir que os espaços proporcionem qualidade acústica adequada para suas funções específicas, possuindo estreita relação com o papel que o som desempenha na vida dos seres humanos, influenciando fatores como o humor, a saúde e a concentração.

Os princípios fundamentais da acústica arquitetônica estão relacionados à transmissão sonora, absorção, reflexão e difusão. Eles orientam a maneira como o som interage com as superfícies, seus respectivos materiais de acabamento e sua posição em um ambiente. Encontrar o equilíbrio ideal entre esses princípios é fundamental para projetar espaços que ofereçam experiências acústicas de qualidade.

  • Transmissão: A transmissão refere-se à passagem do som por meio de materiais construtivos. A capacidade de um material ou estrutura minimizar a transmissão de som é medida pelo seu índice de isolamento acústico. O controle da transmissão é essencial para garantir privacidade entre diferentes áreas e reduzir a interferência de sons indesejáveis.
  • Isolamento acústico: Envolve estratégias e materiais para reduzir a transmissão sonora entre ambientes. Isso pode incluir o uso de paredes duplas, janelas acústicas e pisos flutuantes para dificultar a transmissão sonora por via aérea ou estrutural.
  • Reflexão: As ondas sonoras são refletidas por superfícies duras como pedras, vidros e concreto. A reflexão pode ser desejável em alguns contextos (por exemplo, para aumentar a inteligibilidade em um auditório), mas pode ser indesejável em outros (como em salas de conferências, onde a reverberação excessiva pode atrapalhar a comunicação).
  • Absorção: Materiais absorventes reduzem a propagação sonora e diminuem a reverberação. Isso é crucial para controlar o tempo de reverberação e melhorar a clareza. Painéis acústicos, tapetes, tecidos e lãs minerais são exemplos de materiais que absorvem parcialmente o som.
  • Difusão: pode ser entendida como a dispersão do som em várias direções, o que ajuda a criar um campo sonoro uniforme e evita pontos focais, por exemplo. Superfícies com formas e texturas variadas podem colaborar para a difusão.
  • Tempo de reverberação: Refere-se ao tempo que o som leva para decair em um ambiente após a fonte sonora ser interrompida. O tempo ideal de reverberação muda conforme a função do espaço e sua volumetria.

Projeto acústico para diferentes tipos de espaços

A aplicação da acústica arquitetônica varia em função do tipo e das necessidades específicas de cada espaço. Vamos a alguns exemplos:

  • Salas de concerto e teatros: Esses ambientes requerem um controle preciso de reflexões, absorção e difusão do som. Os materiais construtivos devem ser especificados e posicionados para criar espaços onde cada nota é ouvida claramente, conforme a tipologia de música apresentada. Em teatros, tanto a música, quanto a palavra falada devem chegar à plateia com clareza. É fundamental que teatros e salas de concertos tenham projeto acústico conciliado com o projeto arquitetônico. Nestes espaços, a volumetria e o isolamento acústico entre ambientes são fundamentais para um melhor resultado.
  • Instituições de ensino: Em salas de aula, auditórios e bibliotecas, a clareza da fala é essencial. Um design acústico eficiente garante que a voz dos professores seja audível e compreensível, melhorando a experiência de aprendizado.
  • Ambientes de trabalho: Escritórios do tipo open plan, cada vez mais comuns, podem enfrentar problemas acústicos devido ao excesso de ruído. Painéis acústicos, baffles e divisórias podem ser usados para criar ambientes de trabalho mais produtivos e confortáveis.
  • Residências: Esses locais precisam equilibrar o isolamento acústico e o conforto. Elementos como janelas acústicas ajudam a reduzir o ruído externo e a criar ambientes internos mais tranquilos. O isolamento entre apartamentos, assim como o tratamento de instalações prediais e de equipamentos mecânicos é importante para garantir uma boa performance à edificação.
  • Espaços de culto: Igrejas, mesquitas e templos usam a acústica arquitetônica para criar ambientes onde sermões e orações ressoam harmonicamente, promovendo uma atmosfera de espiritualidade e reverência. As envoltórias nesses espaços devem ser projetadas visando um bom isolamento acústico e prevenir eventuais conflitos com a vizinhança.

A evolução da acústica arquitetônica pela história

A acústica arquitetônica tem desempenhado um papel significativo na evolução do design de edifícios ao longo da história. Os gregos antigos, conhecidos por seus anfiteatros e teatros, já demonstravam um entendimento inicial dos princípios acústicos. Os romanos, por sua vez, usavam arranjos concêntricos de assentos para projetar o som de forma eficaz para grandes públicos nos coliseus.

Com os avanços recentes em materiais e tecnologia, a acústica arquitetônica passou por uma revolução. Ferramentas como simulações computacionais, modelagem 3D e softwares avançados permitiram aos consultores prever o comportamento do som ainda em etapa projetual. Tais avanços levaram à criação de espaços notáveis e com geometrias complexas, como o Walt Disney Concert Hall em Los Angeles (EUA), a Philharmonie de Paris (França) e a Tokyo Opera City Concert Hall (Japão). 

Phillarmonie de Paris
Tokyo Opera City Concert Hall
Tokyo Opera City Concert Hall

A acústica arquitetônica é um exemplo da fusão entre ciência e arte, na qual física e arquitetura se encontram para moldar experiências auditivas em ambientes construídos. Ela vai além do simples controle do som. Trata-se de criar espaços que evocam emoções, aprimoram performances, facilitam o aprendizado e oferecem tranquilidade.

À medida que a acústica arquitetônica continua a evoluir, ela contribui para uma relação mais harmoniosa entre os seres humanos e os espaços que ocupam, lembrando-nos de que a arquitetura não deve apenas se voltar para o aspecto visual, como também para o audível.

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* Andrea Destefani é arquiteta e urbanista formada pela Unicamp, mestre em Acústica/Tecnologia de Edificações pelo IPT, com MBA em gestão de negócios pela USP. Consultora de Acústica no CTE, possui mais de doze anos de experiência profissional com foco em acústica e conforto ambiental para o ambiente construído.

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