O aumento na construção de edifícios altos em diversas cidades brasileiras reflete a evolução da engenharia no país. Essa tendência exige soluções inovadoras para enfrentar desafios cada vez mais complexos, sobretudo os de ordem estrutural. À medida que a altura cresce, aumentam também as exigências relacionadas ao controle da ação do vento, aos deslocamentos horizontais e às vibrações, fatores decisivos para a segurança e o desempenho das torres.
O que define um edifício alto?

Segundo o CTBUH (Council on Tall Buildings and Urban Habitat), um edifício é considerado alto quando sua altura afeta significativamente os aspectos de projeto e construção. A entidade não estabelece uma altura mínima para essa classificação, mas utiliza critérios qualitativos e quantitativos.
Dependendo do contexto urbano e tecnológico, edifícios com mais de 50 metros ou 14 andares podem ser considerados altos. As torres que ultrapassam os 300 metros são classificadas como super altas, como o Taipei 101, em Taiwan, com 508 metros. Já os mega altos correspondem a casos raríssimos que superam os 600 metros, como o Burj Khalifa, nos Emirados Árabes Unidos, com 828 metros de altura.
Edifícios altos no panorama brasileiro
Embora o Brasil ainda não possua nenhum edifício mega alto, o país acompanha a tendência global de verticalização. De acordo com dados do CTBUH, estão previstos para os próximos anos cerca de 150 edifícios altos, dos quais aproximadamente 100 já estão em execução e o restante em fase de projeto. Essas construções concentram-se principalmente em grandes centros urbanos como São Paulo (SP), Goiânia (GO), Fortaleza (CE) e, de forma mais expressiva, em Balneário Camboriú (SC), frequentemente chamada de “Dubai brasileira”.
É na cidade catarinense que está em construção o Senna Tower, com 544 metros de altura e previsão de conclusão para 2033. Outros exemplos de edifícios altos sendo erguidos são o PG Residences, com 173,40 metros de altura, e o Alto das Nações Torre 2, com 219 metros, ambos na capital paulista.
Como vencer os desafios estruturais em edifícios altos?
Múltiplos fatores impactam o dimensionamento de um edifício alto. Diferentemente das construções convencionais, de menor porte, em que predominam as cargas gravitacionais (peso próprio e sobrecargas de uso), nas torres altas as cargas laterais tornam-se determinantes, sendo os deslocamentos horizontais e as vibrações os parâmetros mais críticos do projeto.
A busca por soluções que garantam segurança e viabilidade econômica deve começar pelo conceito arquitetônico, que precisa estar alinhado com o projeto de estruturas. Em razão da ação do vento, a geometria do edifício precisa favorecer menor obstrução e melhor desempenho. Nesse sentido, os ensaios em túnel de vento tornam-se indispensáveis, já que, a partir de determinadas alturas, as cargas eólicas passam a ser o fator mais relevante no dimensionamento das fundações e da estrutura.
Com relação aos materiais, edifícios com mais de 250 metros de altura exigem concretos de alta resistência e boa fluidez, capazes de ser bombeados a grandes alturas. Outras soluções necessárias são os outriggers, elementos que conectam o núcleo rígido do edifício à periferia, geralmente localizados em pavimentos técnicos, para resistir a esforços horizontais e limitar deslocamentos.
“Projetos disruptivos demandam abordagens novas, especialmente nas etapas de fundações e estruturas que, em prédios altos, representam mais de 30% do custo total da obra”, afirma a engenheira Stephane Domeneghini, diretora-executiva da Talls Solutions, consultoria responsável pela engenharia estrutural do Senna Tower, empreendimento da FG.
O projeto, que homenageará o piloto brasileiro Ayrton Senna, prevê pavimentos de outrigger a cada 75 metros, formados por paredes de concreto em toda a periferia da torre. Será também o primeiro edifício da América Latina a incorporar um Tuned Mass Damper (TMD), ou amortecedor de massa sintonizado, em português, dispositivo projetado para reduzir a amplitude das vibrações provocadas por ventos fortes, terremotos ou movimentações mecânicas da própria estrutura.
Por que construir edifícios altos?
Muitos se perguntam sobre a necessidade de erguer edifícios altos, diante da complexidade técnica e econômica envolvidos. Na visão de Roberto de Souza, CEO do CTE e membro da diretoria fundadora do capítulo brasileiro do CTBUH, a construção de edifícios altos é uma tendência com potencial de proporcionar ganhos urbanísticos, sociais, ambientais e econômicos.
Segundo ele, um dos principais benefícios é a otimização do uso do solo urbano. A verticalização libera espaço para áreas verdes e infraestrutura urbana, contribuindo para a qualidade de vida da população. Além disso, pode impulsionar a requalificação de áreas centrais e históricas e conter a expansão horizontal das cidades, o que ajuda a racionalizar os custos com infraestrutura e mobilidade urbana.
“Edifícios altos não são apenas um desafio técnico. São uma oportunidade para que a construção civil brasileira avance rumo a modelos mais inovadores, integrados e responsáveis”, reforça Souza.
CTBUH Chapter Brasil: conectando altura e conhecimento
O CTE acompanha estrategicamente o avanço da construção de edifícios altos por meio do Enredes, unidade dedicada à articulação entre os diversos agentes da cadeia produtiva. A iniciativa promove conexões, troca de saberes e integração de soluções.
Ciente de que esse desenvolvimento exige inovação, domínio técnico e atenção aos impactos sociais e ambientais, o Enredes participou da criação do CTBUH Chapter Brasil, braço nacional da principal organização global dedicada ao estudo e desenvolvimento de edifícios altos e urbanismo vertical. Quer se manter atualizado sobre as discussões e tendências nesse setor? Então, torne-se um associado do CTBUH Chapter Brasil!


