Em diferentes cidades brasileiras, a construção de arranha-céus tem se tornado mais frequente, indicando o grau de evolução técnica da engenharia nacional. Em São Paulo, por exemplo, já está em operação o Platina 220, empreendimento de uso misto da construtora Porte, com 172 metros de altura e 50 pavimentos. Em Santa Catarina, a cidade de Balneário Camboriú vem sendo apelidada de “Dubai brasileira” por causa da construção de edifícios cada vez mais altos. É justamente nesse município litorâneo que será construído o Senna Tower, com mais de 544 m de altura.
Mas como viabilizar a construção desses edifícios técnica e financeiramente? Em outubro, o evento “Desafios e Soluções para Edifícios de Grande Altura”, promovido pelo Enredes, plataforma de inovação e relacionamento do CTE, jogou luz sobre essa questão. Patrocinado pela LG e pela Dufrio, o encontro reuniu mais de 160 profissionais no Teatro Multiplan, em São Paulo, e contou com a mediação de Roberto de Souza, CEO do CTE.
Industrialização como estratégia para viabilizar a construção de edifícios altos
Construir um prédio com mais de 150 metros de altura impõe uma série de dificuldades que percorrem todo o ciclo de desenvolvimento do empreendimento. São necessárias soluções estruturais específicas, por exemplo, para lidar com os deslocamentos laterais provocados pela intensa ação dos ventos. Também é necessário haver um projeto de movimentação vertical que contemple elevadores de alta velocidade, bem como instalações hidráulicas adequadas e soluções para proteção a incêndios.
A execução das fachadas em edifícios altos é outro desafio, exigindo soluções e controles que garantam condições de trabalho seguras aos trabalhadores. Para minimizar riscos e agilizar processos, a Benx Incorporadora recorreu ao uso de painéis de fachada pré-fabricados e materiais de alto desempenho, como o concreto de 50 MPa de resistência, na construção do PG Residences. Parte do Parque Global, complexo de luxo na zona sul de São Paulo, a torre em construção terá 168 metros de altura e 300 apartamentos de alto padrão. “Outra solução incorporada a esse empreendimento foi o uso de paredes prontas, que chegam ao canteiro com os perfis de drywall e todas as instalações elétricas e hidráulicas embutidas, reduzindo o tempo de execução e a quantidade de trabalhadores no canteiro, ao mesmo tempo, em que eleva a qualidade”, explicou Luciano do Amaral, diretor de engenharia da Benx.
Desafios logísticos e de projeto
Outro empreendimento em construção em São Paulo é o Alto das Nações, que quando concluído, será o edifício corporativo mais alto do país, com 219 metros de altura. A construção do triple A tem superado uma série de dificuldades logísticas, em função das limitações do terreno. Tais restrições impactaram a definição das soluções construtivas, bem como a utilização de intensa mecanização. Para viabilizar a movimentação de materiais, estão sendo utilizadas três gruas, sendo uma delas com 52 metros de braço, além de dois pares de elevadores cremalheiras, revelou Guilherme Margara, gerente de arquitetura na WTorre.
Também em São Paulo, o Platina 220, com 172 metros de altura, precisou superar desafios decorrentes de sua altura e da grande diversidade de usos concentrados. Segundo Carla Estrella, diretora técnica do Königsberger Vannucchi Arquitetos Associados, a necessidade de atender a rigorosas exigências do Corpo de Bombeiros demandou soluções especiais para a compartimentação dos espaços e a setorização de elevadores. Outro obstáculo foi a execução da fachada, que exigia uma solução leve e com resistência ao fogo comprovada por laudos laboratoriais. Nesse caso, a opção foi pelos painéis unitizados de porcelanato.
Recorde de altura e inovação
Recém-lançado, o residencial Senna Tower, da FG Empreendimentos, chega muito próximo da categoria edifícios mega altos, utilizada para designar os poucos prédios no mundo que ultrapassam a marca de 600 m.
Stephane Domeneghini, diretora-executiva da FG Talls, explicou que construir empreendimentos desse porte exige soluções inovadoras, que garantam segurança e sejam economicamente adequadas. “Uma condição é que o conceito arquitetônico global esteja alinhado com o projeto de estruturas”, contou a engenheira, reforçando que para executar um prédio alto com rigidez e custo competitivo é preciso evitar o comodismo, bem como contar com um corpo técnico competente. No caso do Senna Tower são mais de trinta escritórios de projetos envolvidos. Entre eles, a WSP, liderado por Fatih Yalniz, responsável por projetos de estruturas arrojados, a exemplo da Steinway Tower, o residencial mais fino do mundo, com mais de 400 metros de altura em Nova York, EUA.
“Projetos disruptivos demandam soluções de projeto e abordagens novos, especialmente nas etapas de fundações e estruturas que representam mais de 30% do custo total da obra , em prédios altos”, disse Domeneghini.
O Senna Tower será o primeiro edifício da América Latina a implementar o Tuned Mass Damper (TMD). O amortecedor de massa sintonizado, em português, serve para reduzir a amplitude de vibrações causadas por ventos fortes, terremotos ou movimentações mecânicas.“Desafios e Soluções para Edifícios de Grande Altura” foi um dos inúmeros eventos realizados pelo Enredes. A unidade de negócio do CTE nasceu em 2018 para conectar profissionais e empresas e gerar negócios. A iniciativa oferece ao mercado um pacote de soluções para promover relacionamento, compartilhar conhecimentos técnicos e estimular movimentos que melhorem o desempenho e a produtividade do setor. Clique aqui para saber mais sobre as atividades realizadas.