A garantia de desempenho acústico e térmico em edifícios altos é uma demanda prevista por normas técnicas, como a NBR 15575 – Edificações Habitacionais – Desempenho. No entanto, essa necessidade vai além das regulamentações: é também uma expectativa dos moradores, que reconhecem o valor de espaços com boa ventilação, luz natural na medida certa, temperaturas agradáveis e proteção contra ruídos incômodos.
Quando falamos em construções verticais super altas, alcançar esse nível de excelência requer cuidados adicionais e soluções específicas, seja em função da maior exposição ao vento decorrente da maior altura, seja porque esses empreendimentos são normalmente construídos para atender ao segmento de alto padrão.
Mas afinal, o que caracteriza um edifício alto?

Um edifício é considerado alto quando sua altura afeta significativamente os aspectos de projeto e construção, conforme definição do CTBUH (Council on Tall Buildings and Urban Habitat). Isso significa que não há uma altura mínima para um prédio ser classificado como alto.
Dependendo do contexto urbano e tecnológico, edifícios com mais de 50 metros ou 14 andares já são considerados altos. As torres que ultrapassam os 300 metros são classificadas como super altas. Já os edifícios mega altos, muito raros, são aqueles arranha-céus que superam os 600 metros, a exemplo do Burj Khalifa, nos Emirados Árabes Unidos.
No Brasil, a valorização dos terrenos bem localizados tem impulsionado a verticalização no mercado imobiliário residencial. Em São Paulo, um exemplo é a PG Residences, torre com 168 metros de altura e 300 apartamentos de alto padrão atualmente em construção, integrada ao Parque Global, complexo de luxo na zona sul da cidade. Outro caso emblemático é a Senna Tower, também em construção, que será o maior edifício residencial do Brasil, com mais de 544 m de altura, quando concluída.
Como resolver os desafios acústicos em edifícios altos?
Em especial para a promoção de conforto acústico, múltiplos pontos precisam ser cuidadosamente abordados no projeto de um edifício alto. A começar pela intersecção entre a acústica e as múltiplas disciplinas envolvidas no projeto da edificação, da arquitetura ao projeto de fachada, passando pelas instalações prediais, segurança contra incêndio, impermeabilização e interiores.
“Em edifícios altos é fundamental adequar as especificações acústicas às soluções inovadoras propostas por cada área, buscando referências de sucesso internacionais e compreendendo, em detalhe, o comportamento de cada elemento da edificação — desde o desempenho da fachada sob ventos intensos, até a transmissão de ruído entre pavimentos e a vibração de sistemas mecânicos”, explica a consultora de acústica no CTE, Andrea Destefani.
Ela destaca que, nesses empreendimentos, é necessário ir além dos requisitos estabelecidos em normas, considerando parâmetros mais rigorosos de isolamento sonoro, ruído de equipamentos e controle de vibrações estruturais, típicos de certificações e diretrizes internacionais de qualidade acústica. “Em edifícios altos e super altos, o desafio acústico depende de uma coordenação técnica precisa e de uma execução impecável, onde cada detalhe contribui para a percepção de conforto dos ocupantes”, diz Destefani.
A especialista do CTE lista algumas práticas essenciais para garantir alto desempenho ambiental durante o desenvolvimento de projetos e obras de edifícios altos. Confira a seguir:
Na etapa de projeto
É essencial considerar o desempenho acústico, térmico e lumínico como um critério de decisão desde o desenvolvimento conceitual da edificação. Isso exige:
- Realização de estudos de ventilação e ruído de vento para prever o comportamento da envoltória e evitar ruídos aerodinâmicos em fachadas e esquadrias;
- Definição criteriosa de sistemas construtivos (fachadas, lajes, paredes internas e pisos flutuantes) com base em ensaios e simulações que assegurem níveis adequados de isolamento aéreo e de ruído de impacto;
- Tratamento acústico de áreas de lazer, para que os ambientes sejam confortáveis, sem que seu uso afete negativamente o entorno e as unidades residenciais;
- Compatibilização com outras disciplinas, especialmente instalações prediais e sistemas de climatização, para minimizar a transmissão de vibrações e o ruído gerado por equipamentos (bombas, ventiladores, geradores, condensadoras, elevadores);
- Detalhamento de juntas e interfaces entre sistemas — pontos críticos em edifícios altos, sujeitos a dilatações e movimentações estruturais — com o uso de selantes, mantas acústicas e componentes resilientes adequados;
- Especificação de materiais e soluções com desempenho comprovado, observando normas e certificações internacionais de referência.
Na etapa de execução
Para garantir desempenho acústico e térmico em edifícios altos, os cuidados devem ser igualmente rigorosos no decorrer da obra. A qualidade do resultado depende da fidelidade à especificação do projeto e da execução precisa dos detalhes construtivos.
Entre os principais pontos de atenção estão:
- Garantir a vedação correta de caixilhos, shafts e passagens de instalações, evitando vazamento de som e vento;
- Execução adequada de sistemas de vedações internas, principalmente entre apartamentos distintos;
- Controle rigoroso de ruído e vibração de equipamentos mecânicos, com isolamento de bases, suportes antivibratórios e atenuadores de ruído nos dutos;
- Treinamento das equipes de obra para compreensão dos requisitos acústicos. Afinal, pequenas falhas de execução, como fissuras ou juntas mal seladas, podem comprometer significativamente o desempenho final;
- Elaboração de protótipos e ensaios de campo (teste de ruído de impacto, isolamento aéreo, nível de ruído de equipamentos) antes da entrega. Tal cuidado é essencial para garantir que o desempenho esteja conforme o esperado.
Soluções para garantir desempenho acústico e térmico em edifícios altos
A indústria oferece uma série de soluções capazes de prover melhores condições de conforto térmico, lumínico e acústico em edifícios, inclusive nos de maior altura. Entre elas, é possível destacar:
- Fachadas de alto desempenho acústico e térmico, com vidros laminados com películas, esquadrias com múltiplas câmaras e selagens especiais;
- Equipamentos de movimentação vertical mais modernos, com menos geração de ruídos;
- Lajes flutuantes e pisos desacoplados para reduzir o ruído de impacto.
O CTE atua na avaliação e proposição de estratégias para melhoria do desempenho acústico, térmico e lumínico em edificações. Entre os serviços realizados, destacam-se simulações para atendimento da ABNT NBR 15575 e a consultoria de acústica. Entre em contato para falarmos mais a respeito!
Juliana Nakamura
Jornalista formada pela PUC-SP, com pós-graduação em Mídias Digitais. Com mais de vinte anos de experiência, atuou em diversos veículos de comunicação, como O Estado de S. Paulo, UOL, Editora Pini e Casa Vogue. Especializada na cobertura de temas ligados à construção civil, mercado imobiliário, arquitetura e urbanismo, também desenvolve conteúdo para entidades setoriais e empresas. Desde 2020, colabora com CTE.


