Por Andrea Destefani
O ambiente escolar desempenha um papel fundamental no desenvolvimento cognitivo e social dos estudantes. Nesse contexto, os aspectos de conforto ambiental, como o conforto acústico, térmico e lumínico, são determinantes para um ambiente saudável e produtivo.
O impacto direto desses fatores no bem-estar e no desempenho escolar tem sido cada vez mais reconhecido por estudiosos, arquitetos e engenheiros.
Este artigo aborda como cada um desses elementos contribui para a qualidade do espaço escolar, além de apresentar estudos e pesquisas que reforçam a relevância de sua consideração no design de edifícios educacionais.
Conforto Acústico
O conforto acústico em ambientes escolares está relacionado principalmente à redução de ruídos indesejados, que podem afetar negativamente a concentração, a comunicação e o aprendizado.
Estudos apontam que níveis elevados de ruído podem reduzir a capacidade de compreensão verbal dos alunos e aumentar o estresse, o que compromete o rendimento escolar.
Em uma pesquisa conduzida por Shield e Dockrell (2003), observou-se que alunos expostos a níveis elevados de ruído apresentaram desempenho inferior em tarefas cognitivas que exigiam concentração.
Esse estudo destaca a importância de projetar ambientes que favoreçam a absorção de som e minimizem a propagação de ruídos provenientes de áreas externas e internas.
O controle acústico nas escolas pode ser alcançado por meio do uso de materiais absorventes de som, como revestimentos acústicos em paredes, tetos e pisos.
Além disso, a disposição das salas de aula e a implementação de divisórias acústicas adequadas podem contribuir para a criação de ambientes mais silenciosos e confortáveis.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que os níveis de ruído em escolas não ultrapassem 35 dB durante atividades educativas, a fim de garantir uma boa comunicação e reduzir o impacto do estresse sonoro.
O excesso de ruído pode acarretar problemas comportamentais dos estudantes, favorecer a dispersão, levando professores a forçar mais a voz, o que pode acarretar problemas vocais e questões relacionadas à fadiga e ao estresse.
Conforto Térmico
O conforto térmico está relacionado à capacidade de manter uma temperatura agradável, que não seja excessivamente quente nem fria, o que pode interferir na capacidade de concentração e afetar a saúde dos estudantes.
A exposição a temperaturas extremas pode levar à fadiga, desconforto e até mesmo ao agravamento de condições respiratórias, especialmente em ambientes não ventilados ou mal isolados.
Estudos, como o de Huang et al. (2011), indicam que a qualidade térmica dos ambientes escolares afeta diretamente o desempenho cognitivo dos alunos.
Em sua pesquisa, verificou-se que os alunos que estudaram em ambientes térmicos confortáveis apresentaram melhor desempenho em atividades cognitivas do que aqueles em ambientes térmicos desconfortáveis.
Além disso, uma pesquisa realizada pela Universidade de Harvard revelou que a temperatura e a ventilação adequadas nas escolas influenciam positivamente os resultados acadêmicos dos estudantes, com uma melhoria de 10-15% no desempenho em testes cognitivos quando as condições térmicas eram mantidas em níveis ideais.
Para alcançar o conforto térmico, é fundamental adotar estratégias de ventilação natural e soluções de climatização eficientes, como sistemas de ar condicionado ou aquecimento que atendam às necessidades específicas de cada estação do ano.
O uso de materiais que promovam o isolamento térmico também é essencial, pois contribui para manter uma temperatura interna estável sem depender excessivamente de sistemas de climatização, resultando em menor consumo energético.
Conforto Lumínico
A iluminação é um fator crucial para a criação de um ambiente escolar saudável e produtivo. A luz inadequada pode causar fadiga ocular, dor de cabeça e dificuldade de concentração, afetando negativamente o aprendizado.
A luz natural, quando bem aproveitada, é um dos maiores aliados na promoção de um ambiente escolar saudável, além de reduzir os custos com iluminação artificial.
A pesquisa de Veitch et al. (2007) demonstrou que a exposição à luz natural melhora o desempenho dos alunos, aumentando sua produtividade e atenção em atividades acadêmicas.
A American Society of Interior Designers também confirma que os ambientes com boa iluminação natural contribuem para o aumento do bem-estar e da eficiência cognitiva. Além disso, o estudo revelou que a iluminação artificial, quando mal planejada, pode prejudicar a visão dos alunos e afetar a ergonomia do ambiente escolar.
É recomendada a utilização de janelas amplas, claraboias e dispositivos de sombreamento que otimizem a entrada de luz natural, sem causar desconforto térmico ou ofuscamento.
A combinação de luz natural e artificial deve ser cuidadosamente planejada, com a escolha de lâmpadas de temperatura de cor adequada e a distribuição homogênea da luz.
Conclusão
Os fatores acústico, térmico e lumínico são fundamentais para criar ambientes escolares confortáveis e que promovam um aprendizado de qualidade.
Diversos estudos e pesquisas têm mostrado que ambientes bem projetados, com atenção a esses aspectos, têm um impacto positivo no bem-estar físico e psicológico de alunos e educadores, além de melhorar o desempenho acadêmico.
Arquitetos e engenheiros devem, portanto, incorporar essas variáveis no processo de planejamento e construção de escolas, garantindo que os projetos atendam às necessidades de conforto e eficiência para o ambiente educacional, pois em muitos casos não é viável resolver questões de conforto com o ambiente já ocupado.
Em um mundo cada vez mais voltado para a saúde e o bem-estar, o conforto ambiental nas escolas é um investimento crucial para o futuro da educação.
Líder em consultoria de sustentabilidade para a construção civil, o CTE atua na avaliação e na proposição de estratégias para melhoria do desempenho acústico das mais diversas tipologias de edificações. Entre os serviços realizados, destacam-se consultoria e projeto de acústica, além de simulações para atendimento à Norma de Desempenho. Entre em contato para falarmos mais a respeito!
* Andrea Destefani é arquiteta e urbanista formada pela Unicamp, mestre em Acústica/Tecnologia de Edificações pelo IPT, com MBA em gestão de negócios pela USP. Consultora de Acústica no CTE, possui mais de doze anos de experiência profissional com foco em acústica e conforto ambiental para o ambiente construído.