Por Andrea Destefani*
Em ambientes escolares, a acústica desempenha um papel fundamental para o sucesso do processo educacional e para a preservação da saúde de alunos e docentes. Em particular, para crianças em fase de alfabetização e para os educadores, a qualidade acústica influencia significativamente a eficiência do aprendizado e o bem-estar.
A etapa de alfabetização é crucial para o desenvolvimento das habilidades de leitura e escrita. Ambientes ruidosos e com má qualidade acústica prejudicam a concentração das crianças e a clareza na percepção da fala. Em salas de aula, onde a comunicação verbal é uma das principais ferramentas de ensino, o nível de ruído pode interferir na capacidade das crianças de ouvir claramente o que está sendo dito, comprometendo diretamente o processo de aprendizado.
Estudos demonstram que o ruído excessivo pode levar a uma redução na compreensão auditiva, além de aumentar o estresse e a fadiga mental. Crianças expostas a altos níveis de ruído podem apresentar dificuldades de concentração, menor desempenho acadêmico e maiores taxas de erros em tarefas de leitura e escrita.
Para os professores, um ambiente com má acústica pode levar a problemas de saúde, como fadiga vocal e estresse. O esforço constante para projetar a voz em um ambiente sem acústica adequada pode causar problemas vocais crônicos, como rouquidão e perda de voz. Além disso, os ruídos indesejados podem causar estresse e cansaço, prejudicando a eficácia do ensino e o bem-estar dos educadores.
Diretrizes para melhorar a acústica em espaços educacionais
Para melhorar a acústica em ambientes escolares, é essencial considerar aspectos de isolamento e de condicionamento acústico na edificação. A seguir, apresentamos algumas diretrizes para cada um desses aspectos:
- Paredes e divisórias — O uso de materiais com alta capacidade de isolamento acústico para paredes e divisórias reduz a transmissão de som entre ambientes de ensino e áreas ruidosas, como pátios ou ambientes externos.
- Janelas e portas — Instalar janelas e portas com isolamento acústico adequado é crucial para minimizar a entrada de ruído externo e a propagação de sons em áreas internas do edifício. É importante avaliar toda a envoltória da edificação, inclusive as coberturas.
- Pisos — Em caso de edificações escolares com múltiplos pisos, é importante implementar alternativas para redução do ruído de impacto entre pavimentos, como a instalação de mantas acústicas sob o contrapiso.
- Equipamentos — O tratamento acústico de equipamentos como os de ar-condicionado, geradores e bombas, por exemplo, é importante para redução do ruído dentro nos ambientes que exigem maior concentração e silêncio.
- Tratamento de superfícies — Aplicar revestimentos acústicos nas superfícies internas, como painéis de absorção sonora em paredes e forros, pode ajudar a controlar a reverberação e melhorar a clareza da palavra falada. É importante executar um estudo acústico específico em relação ao Tempo de Reverberação (T60) para cada ambiente conforme seu uso e volume (m³).
- Distribuição do mobiliário — Organizar o mobiliário para otimizar a distribuição das mesas, deixando-as mais próximas do docente, pode melhorar a qualidade acústica. Evitar a inserção de móveis grandes e reflexivos, é uma estratégia para reduzir a reverberação e criar um ambiente mais equilibrado acusticamente.
- Acústica de ambientes comuns — Áreas como refeitórios, ginásios e corredores também devem ser tratadas para reduzir o ruído e melhorar a qualidade acústica. O uso de materiais absorventes em forro e paredes pode ajudar a controlar o nível de ruído nessas áreas.
O que determinam as normas técnicas quanto a acústica em escolas?
A ABNT NBR 10.152: Acústica – Níveis de Pressão Sonora em Ambientes Internos e Edificações estabelece critérios para níveis de pressão sonora em ambientes internos.
Para salas de aula, a norma recomenda que o nível de pressão sonora equivalente não ultrapasse 35 dB(A) e, o nível máximo, 40 dB(A) em salas de aula. Estas diretrizes visam garantir que os níveis de ruído sejam adequados para a comunicação e a concentração.
A ABNT NBR 12.179: Tratamento acústico em recintos fechados, estabelece que o tempo de reverberação deve ser obtido através do volume de cada ambiente e da área de absorção sonora equivalente conforme a distribuição dos materiais em superfícies.
Para parâmetros de isolamento e condicionamento acústico em escolas, existem normas internacionais e guias de boas práticas que também podem ser utilizadas como referência.
Um bom projeto acústico para ambientes escolares é chave para prover ambientes de aprendizado eficazes e saudáveis. Nesse contexto, seguir as diretrizes de isolamento e condicionamento acústico, em conformidade com normas e guias de boas práticas, é fundamental. Afinal, implementar soluções acústicas adequadas não apenas melhora a experiência educacional, como também contribui para a eficiência e a qualidade do ensino.
O CTE atua na avaliação e proposição de estratégias para melhoria do desempenho acústico das mais diversas tipologias de edificações. Entre os serviços realizados, destacam-se simulações para atendimento da ABNT NBR 15.575, além de consultoria e projeto de acústica. Entre em contato para falarmos mais a respeito!
* Andrea Destefani é arquiteta e urbanista formada pela Unicamp, com mestrado em Acústica / Tecnologia de Edificações pelo IPT e MBA em gestão de negócios pela USP. Consultora de Acústica no CTE, possui mais de doze anos de experiência profissional com foco em acústica e conforto ambiental para o ambiente construído.