Por Andrea Destefani*
Garantir boa qualidade acústica em hospitais é uma ação que extrapola questões de arquitetura e de projeto. Trata-se de uma demonstração de cuidado e de respeito pela experiência humana.
Caracterizados pelo fluxo intenso e contínuo de pessoas, os hospitais demandam equilíbrio acústico para seu bom funcionamento. Cada ambiente possui necessidades acústicas distintas, desde a recepção, às áreas de espera, passando por setores de emergência e áreas administrativas.
Na enfermaria, por exemplo, o silêncio é crucial para a recuperação dos pacientes, enquanto que nas salas de cirurgia, a ausência de ruídos indesejáveis é essencial para garantir que procedimentos delicados sejam realizados com precisão.
Por que a acústica é tão importante em instalações de saúde?
Em instalações de saúde, a eficácia do tratamento acústico afeta diretamente a recuperação dos pacientes e o bem-estar dos profissionais que trabalham nesses locais.
Para os pacientes, um ambiente acústico bem planejado pode reduzir o estresse, melhorar a qualidade do sono e contribuir para uma recuperação mais rápida. Já para médicos, enfermeiros e demais funcionários, a redução do estresse auditivo e a melhora na concentração são decisivos para um trabalho eficiente e sem erros. A acústica influencia, ainda, o bem-estar de familiares e acompanhantes em momentos de grande apreensão.
Desafios e soluções relacionados à qualidade acústica em hospitais
Uma das primeiras atitudes a serem tomadas no desenvolvimento de projetos de instalações hospitalares é a análise do entorno da edificação. Levantar previamente quais são as principais fontes sonoras externas é uma condição para a especificação correta de sistemas de fachadas e coberturas, principalmente para os setores mais sensíveis.
Equipamentos prediais, como condensadoras de ar-condicionado, casas de máquinas e geradores, também precisam receber tratamento adequado, assim como ter sua localização disposta o mais distante possível dos ambientes que exigem mais silêncio. A correta avaliação e especificação permite a implementação de soluções como barreiras acústicas, enclausuramentos e bases antivibratórias.
Para atingir o desempenho almejado, é possível adotar uma série de estratégias, como a especificação de portas e esquadrias com alta performance acústica e a aplicação de revestimentos absorventes em forros e paredes.
É recomendado especificar sistemas de vedações com isolamento acústico adequado às demandas de cada espaço. Para os sistemas de piso, é essencial que sejam minimizados os ruídos aéreos (conversas, bipes, televisores) e os de impacto (caminhar, quedas de objetos, passagem de macas e carrinhos) entre ambientes em pavimentos distintos.
Questões de higiene, segurança e manutenção também são de extrema importância em instalações de saúde. Os revestimentos acústicos, como forros e painéis de parede, que auxiliam na redução da reverberação, também devem ter propriedades antibacterianas, antifúngicas e ignífugas, atendendo às normas da vigilância sanitária e do Corpo de Bombeiros. Além disso, todos os materiais empregados precisam ser fáceis de limpar e substituir.
O que determinam as normas técnicas sobre acústica em hospitais?
A ABNT NBR 10.152 – Acústica – Níveis de Pressão Sonora em Ambientes Internos e Edificações fornece diretrizes importantes para o conforto acústico em ambientes internos, incluindo hospitais. A norma estipula requisitos como o nível de pressão sonora contínuo equivalente (LAeq), o nível máximo de pressão sonora (LASmax) e a classificação NC (Noise Criteria – níveis de ruído por frequência) para diversos ambientes, conforme a tabela:
Ambiente | RLAeq(dB) | RLASmax(dB) | RLNC |
Berçários | 35 | 40 | 30 |
Centros cirúrgicos | 35 | 40 | 30 |
Consultórios | 35 | 40 | 30 |
Enfermarias | 40 | 45 | 35 |
Laboratórios | 45 | 50 | 40 |
Quartos coletivos | 40 | 45 | 35 |
Quartos individuais | 35 | 40 | 30 |
Salas de espera | 45 | 50 | 40 |
Diante da complexidade de usos que encontramos em hospitais, é fundamental classificar cada ambiente de acordo com sua necessidade de tratamento acústico. Em apartamentos, enfermarias e centros cirúrgicos, o nível de ruído recomendado varia de 35 a 40 dB. Locais como unidades de tratamento intensivo (UTIs), maternidades e centros de exames, apesar de não listados acima, exigem maior privacidade e isolamento acústico.
Outros espaços, como lanchonetes e áreas técnicas, são intensos produtores de ruído e, por isso mesmo, devem ser isolados adequadamente. A análise da taxa de ocupação, do volume do ambiente e do período de uso ajuda a calcular a demanda por isolamento acústico e absorção sonora necessária em cada caso.
Líder no mercado de consultoria de sustentabilidade para a construção civil, o CTE atua na avaliação e proposição de estratégias para melhoria do desempenho acústico das mais diversas tipologias de edificações, inclusive instalações hospitalares. Com equipe altamente especializada em desempenho térmico, lumínico e acústico, CTE auxilia as empresas a desenvolverem projetos e obras combinando qualidade e custo, em alinhamento às exigências das normas técnicas. Entre em contato para falarmos mais a respeito!
* Andrea Destefani é arquiteta e urbanista formada pela Unicamp, mestre em Acústica/Tecnologia de Edificações pelo IPT, com MBA em gestão de negócios pela USP. Consultora de Acústica no CTE, possui mais de doze anos de experiência profissional com foco em acústica e conforto ambiental para o ambiente construído.