Se há um tema que vem predominando em todas as rodas de conversa com construtores e incorporadores é a falta de mão de obra qualificada.
Especialmente nos grandes centros, a escassez de trabalhadores gera reflexos que vão além da dificuldade para contratar e preencher as vagas disponíveis.
Estamos falando de obras com desvios em cronogramas e com estouros de custos que põem em risco a sustentabilidade financeira dos negócios.
Quem atua há mais tempo nesse setor, sabe que um possível apagão de trabalhadores não é uma ameaça nova. Essa, na verdade, é uma dor que sempre aparece em momentos de mercado aquecido.
Mas, por uma série de fatores, a falta de mão de obra qualificada parece estar se agravando. Quer entender a gravidade do problema e, principalmente, o que pode ser feito para minimizá-lo? Então, siga conosco:
Qual é o tamanho da falta de mão de obra qualificada na construção brasileira?
De acordo com o recém-publicado “Panorama da Mão de Obra na Construção Brasileira”, nos últimos seis meses, a escassez de pessoal levou à revisão de prazos de obra em 76% das construtoras brasileiras.
Além disso, para tentar reduzir os impactos da carência de trabalhadores, 74% das empresas têm aumentado salários e oferecido mais benefícios. O estudo foi realizado pela Grua Insights com 139 empresas de todo o país, em abril de 2024.
Dados do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção Civil de São Paulo reforçam que a carência de trabalhadores vem inflacionando os custos da construção. Segundo o Sintracon-SP, o aumento nos salários acima da inflação, que normalmente gira em torno de 0,5%, chegou a 1,27% em 2024, além da correção do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) de 3,18%.
E não é só isso. O Índice Nacional da Construção Civil (INCC), medido pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), acumulou alta de 4% em 12 meses, até maio de 2024. O custo da mão de obra, apurado pelo mesmo indicador, subiu 7,51% no período.
O envelhecimento dos trabalhadores
O “Perfil da mão de obra na construção civil”, realizado pela Autodoc, também traz dados interessantes para a discussão.
O trabalho mostrou que, há seis anos, os profissionais que atuam no chão de obra tinham, em média, 36 anos. Em 2023 esse número chegou a 42 anos.
Os números, coletados desde janeiro de 2016 até o final de 2023, foram obtidos a partir de uma amostragem composta por 794.216 colaboradores.
No caso dos oficiais, a idade média subiu mais de 8%, entre 2016 e 2023. Essa categoria inclui uma ampla diversidade de funções, como pedreiros, carpinteiros, armadores, almoxarifes, apontadores, eletricistas, pintores e gesseiros.
A pesquisa da Autodoc indica, também, o aumento da idade média dos mestres de obra, que subiu de 40 anos (em 2016) para 45 anos (em 2023). Tal envelhecimento nos dá uma pista da dificuldade enfrentada pelas empresas para repor os profissionais que estão se aposentando.
Por que falta mão de obra qualificada no Brasil?
A escassez de trabalhadores para a recomposição dos quadros tem relação com um conjunto de motivações. A primeira delas é a elevada demanda de trabalhadores da construção civil. Este setor é um dos maiores geradores de emprego no país.
Segundo o Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), nos últimos quatro anos, o aumento de pessoas empregadas com carteira assinada foi de 40%. Isso significa que, a cada ano, o número de trabalhadores da construção civil cresce a um ritmo de quase 10%.
Ao mesmo tempo, a carreira na construção padece de baixa atratividade. Isso porque o trabalho nos canteiros está associado à realização de serviços fisicamente penosos e perigosos. Para complicar, a construção civil ficou para trás diante das transformações no mundo do trabalho.
Hoje, muitos jovens preferem atuar como motoristas ou entregadores por aplicativo, atividades que não necessariamente oferecem melhores salários, mas que são mais flexíveis e oferecem mais autonomia.
O que é possível fazer para atenuar a falta de mão de obra qualificada?
A dificuldade para reter talentos, preencher as vagas disponíveis e renovar os quadros de funcionários exige ações empresariais contundentes, assim como de mobilização setorial. Sempre que falamos em melhorar as condições de trabalho nos canteiros, uma solução que se destaca é a da industrialização.
“É hora de investir em sistemas mais enxutos e industrializados, que, além de alinhados aos conceitos de responsabilidade socioambiental e de governança, permitem aumentar a produtividade e reduzir equipes em canteiro”, recomendam os diretores do CTE no e-book “Tendências para a Construção Civil em 2024”, disponível para download gratuito.
Outras práticas necessárias para minimizar o problema são:
- Investir em programas de treinamentos e capacitação, sobretudo com a aproximação entre empresas e instituições de ensino;
- Incorporar mais ferramentas digitais nos processos operacionais, buscando ganhos de eficiência;
- Melhorar o ambiente de trabalho. Os canteiros de obras precisam se tornar mais atraentes para profissionais com diferentes perfis, incluindo jovens e mulheres;
- Oferecer perspectiva de crescimento real aos profissionais e implantar ou ampliar filosofias que valorizem a integração e o empoderamento dos colaboradores;
- Apoiar a capacitação das empreiteiras. É fundamental melhorar a capacidade administrativa dessas empresas e criar mecanismos para que elas sejam mais sustentáveis e tenham condições de qualificar seus profissionais.
UniCTE: capacitação profissional inovadora
A falta de mão de obra qualificada se estende a todos os níveis profissionais na construção civil, incluindo engenheiros e arquitetos.
Fruto de uma parceria entre o Cognita Learning Lab e o CTE, a UniCTE (Universidade Setorial da Construção) atua para diminuir esse gap, tomando como base os conceitos mais atuais de educação.
As trilhas de conhecimento da UniCTE são formatadas com dois objetivos principais: preparar os profissionais para o futuro e apoiar as empresas, que precisam desenvolver seus talentos para se tornarem mais competitivas e resilientes.
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