Acústica em escritórios: como evitar problemas comuns e atender as exigências das certificações ambientais?

A acústica é um fator essencial a ser considerado para a produtividade e o bem-estar das pessoas em ambientes de trabalho. Ruídos indesejados, falta de privacidade sonora e alta reverberação podem comprometer significativamente a qualidade do ambiente de trabalho. Por isso é tão importante que os projetos de acústica em escritórios atendam as normas técnicas e incluam materiais e equipamentos que colaborem para a obtenção de conforto dos usuários. 

No Brasil, uma das principais referências para orientar os projetistas é a ABNT NBR 10152 – Acústica – Níveis de pressão sonora em ambientes internos a edificações. 

O texto estabelece os níveis sonoros adequados para cada ambiente em função de seu uso. Em salas de reunião, por exemplo, os níveis recomendados como aceitáveis variam entre 35 dB e 40 dB. Para salas de gerência, diretoria e de videoconferência, os níveis recomendados ficam entre 40 dB e 45 dB. Em escritórios coletivos, recepções e salas de espera, os níveis variam entre 45 dB e 50 dB.

Prezando pela saúde e pela satisfação dos ocupantes de espaços construídos, certificações ambientais internacionais como LEED (Leadership in Energy and Environmental Design) e WELL Building Standard também incorporam créditos acústicos em seus sistemas de avaliação de desempenho.

A seguir, Andrea Destefani, consultora de acústica no CTE, apresenta os aspectos mais críticos da acústica em escritórios, relacionando-os com a conquista de pontuação nas certificações LEED e WELL. Confira!

Quais são os problemas mais comuns relacionados à acústica em escritórios?

  1. Isolamento acústico entre ambientes

Privacidade sonora é um requisito essencial em salas de reunião, salas de diretoria, áreas administrativas, área do RH, espaços para videoconferência e cabines telefônicas. A falta de isolamento entre ambientes pode comprometer informações confidenciais e causar distrações. Sem contar que pode exigir reformas e intervenções custosas para melhorar a performance.

Nesse sentido, algumas soluções que podem ser aplicadas, ainda na etapa de projeto, são: 

  • Sistemas de vedações e divisórias com elevado isolamento acústico. Em diversos casos, as vedações em drywall não são previstas para o fechamento total, desde a laje do piso até a laje do forro, comprometendo muito o isolamento entre salas;
  • Portas acústicas com boa vedação;
  • Tratamento de passagens de instalações como dutos, shafts e caixas elétricas;
  • Piso flutuante e septos entre piso e laje estrutural. 
  1. Controle de ruído de equipamentos

Em edifícios corporativos, diversos equipamentos mecânicos e sistemas prediais podem gerar níveis elevados de ruído de fundo. Entre eles, destacam-se os sistemas de HVAC (aquecimento, ventilação e ar condicionado), os elevadores e as tubulações.

Para garantir que os níveis de ruído de fundo fiquem entre 30 e 45 dBA, conforme o uso do ambiente (NBR 10152), é necessário adotar algumas estratégias. Entre elas, a especificação de equipamentos silenciosos e o uso de atenuadores, revestimentos em dutos e isoladores de vibração em equipamentos. O correto tratamento acústico de áreas que contenham fancoils também é fundamental.

  1. Tempo de reverberação e conforto acústico

A adoção de revestimentos reflexivos ao som leva, muitas vezes, a ambientes de trabalho muito reverberantes. Nesses casos, as conversas acabam sendo percebidas como ruídos elevados, incomodando e, não raramente, ocasionando dores de cabeça, irritabilidade e cansaço às pessoas. Para evitar que isso aconteça, algumas práticas recomendadas são:

  • Aplicação de materiais absorventes no teto (painéis, nuvens, baffles) e nas paredes para controle da reverberação, assim como uso de carpetes no piso;
  • Planejamento do layout separando zonas de colaboração e concentração;
  • Criação de barreira visual e sonora entre estações de trabalho;
  • Uso de sistemas de mascaramento sonoro;
  • Inserção de mobiliário com propriedades de absorção sonora.

Como a acústica em escritórios é abordada pela certificação LEED?

As certificações LEED e WELL incentivam a promoção de ambientes acústicos saudáveis e eficientes.

No caso do LEED, na categoria Indoor Environmental Quality, há um crédito específico que trata da performance acústica em escritórios, escolas e centros de saúde. Os requisitos incluem:

  • Isolamento acústico entre ambientes;
  • Controle de ruído de sistemas mecânicos;
  • Redução do tempo de reverberação;

Vale lembrar que as soluções acústicas também podem contribuir com os requisitos de materiais sustentáveis. Além disso, as especificações de acústica podem estar alinhadas com conforto ambiental e análises computacionais exigidas em créditos de desempenho energético.

Acústica e escritórios: como a certificação WELL aborda esse assunto?

A certificação WELL, por sua vez, apresenta critérios detalhados e específicos sobre acústica.

Para conquistar o selo de saúde e bem-estar, o mapeamento de som é um pré-requisito obrigatório. O objetivo é avaliar e mapear as condições acústicas dos ambientes previstos em projeto e suas interfaces. 

Com isso, o WELL exige a realização de uma análise acústica que identifique fontes de ruído, materiais e características do espaço. O resultado pode ser usado para justificar decisões de projeto em relação aos demais créditos de acústica.

A certificação oferece, ainda, créditos opcionais para reconhecer a adoção de algumas medidas positivas para melhorar a acústica do ambiente. Entre eles:

  • Níveis máximos de ruído – É possível acessar um ponto no processo de certificação reduzindo ruídos de fundo indesejados, especialmente de sistemas HVAC e equipamentos mecânicos. Para isso, o órgão certificador prevê medições in loco ou simulações acústicas como método de verificação.
  • Barreiras sonoras – É possível obter até dois pontos com ações que garantam privacidade acústica entre ambientes adjacentes. Nesse caso, o WELL utiliza, como referência, o atendimento a valores mínimos de isolamento sonoro (STC – Sound Transmission Class) e considera a vedação de portas, shafts e forros.
  • Superfícies absorvedoras – Um projeto pode receber até dois pontos no processo de certificação ao introduzir materiais absorventes que proporcionem redução da reverberação em espaços internos. Tal exigência é especialmente relevante para salas de conferência, áreas de espera, corredores e escritórios open plan.
  • Mascaramento de som – É possível receber o bônus de até um ponto com estratégias que melhorem a inteligibilidade da fala e a privacidade sonora, especialmente em escritórios open plan. O objetivo do certificador é incentivar a implementação de sistemas de mascaramento sonoro com níveis sonoros adequados para cada tipo de espaço.
  • Design acústico aprimorado – O projeto pode conquistar até dois pontos de crédito quando avança em soluções acústicas além do mínimo exigido, visando um desempenho excepcional. Para isso, é necessário contar com uma consultoria acústica detalhada, com simulações e medições, além da implementação de medidas integradas (isolamento, absorção, difusão, mascaramento).

Conclusão

Incorporar a acústica em escritórios desde as fases iniciais do projeto é essencial para criar ambientes mais saudáveis, produtivos e sustentáveis. Além de atender às normas técnicas, esse cuidado favorece a obtenção de certificações tão valorizadas pelo mercado corporativo, como LEED e WELL.

Líder em consultoria de sustentabilidade para a construção civil, o CTE atua na avaliação e na proposição de estratégias para melhoria do desempenho acústico das mais diversas tipologias de edificações, incluindo escritórios. 

Entre os serviços realizados, destacam-se simulações para atendimento de exigências normativas, consultoria e projetos de acústica e consultoria para a obtenção de certificações de sustentabilidade.

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