Por Andrea Destefani, consultora de acústica no CTE*
Ao projetar uma edificação residencial, existem diversos parâmetros e requisitos a serem seguidos para atender as demandas normativas, de rentabilidade e de segurança. Focando apenas na performance acústica, há alguns desafios a serem superados para que o projeto garanta isolamento acústico adequado e conforto aos ocupantes.
1- Paisagem sonora
O primeiro deles é a paisagem sonorana qual o empreendimento está inserido. Em cidades grandes ou mais adensadas, o ruído de trânsito e de aeronaves é bastante proeminente e afeta diretamente as fachadas e esquadrias das edificações. Outras fontes sonoras podem ser, por exemplo, terminais multimodais, estádios, áreas de eventos e canteiros de obra.
Para minimizar o efeito da paisagem sonora, a implantação da edificação pode ser pensada, desde o início do processo de projeto. O objetivo deve ser reduzir o efeito das ondas sonoras nas janelas dos ambientes mais sensíveis, como dormitórios e salas.
Janelas e portas acústicas podem ser aplicadas para barrar, ao máximo, o ruído externo. No entanto, estes elementos apresentam limitações para isolamento acústico devido à sua pouca espessura e densidade superficial, em comparação com vedações cegas e pesadas, como alvenarias.
2- Áreas comuns e de lazer
Outro desafio diz respeito à localização de áreas comuns de lazer. Em muitos casos, a dimensão do terreno leva os projetistas a posicionarem piscinas, quadras, academias e outros espaços comuns sobre unidades residenciais.
Para solucionar as transmissões sonoras aéreas e de impacto, é necessário aplicar o desacoplamento dos sistemas de piso, por meio de lajes ou contrapisos flutuantes, por exemplo. Estas são soluções que utilizam o sistema massa-mola-massa, ou seja, sistema composto por uma mola ideal, de constante elástica k, fixa a um corpo de massa m efetuando um movimento oscilatório.
No caso de contrapisos flutuantes, a laje e o contrapiso funcionam como o corpo de massa “m” e a manta acústica funciona como a mola, dificultando a transmissão das ondas sonoras através dos diferentes materiais. A imagem a seguir ilustra um contrapiso flutuante com manta acústica.
Imagem 01: Esquema ilustrativo de contrapiso flutuante. Fonte: Acervo CTE.
3- Elevadores e casas de máquinas
Outra questão que pode levar a reclamações dos usuários é o posicionamento de elevadores ou áreas técnicas adjacentes aos apartamentos. Equipamentos mecânicos podem emitir ruídos tonais e/ou intermitentes, além de vibrações que possivelmente serão transmitidas para vedações e pisos, gerando incômodos aos ocupantes. É preciso tomar algum cuidado também com shafts e aberturas de ventilação em casas de máquinas.
O ideal é distanciar, ao máximo, as áreas técnicas e poços de elevadores das unidades residenciais. Além disso, existem soluções como bases antivibratórias, que desacoplam os motores do restante da edificação, minimizando as transmissões sonoras.
4- Instalações prediais
Por fim, é preciso atentar para as instalações elétricas e hidráulicas nas paredes de geminação entre unidades residenciais distintas.
Para evitar as denominadas “pontes acústicas”, é preciso verificar, ainda em fase de projeto, a localização e o dimensionamento das instalações, para não ocorrerem perdas de performance por conta de caixas elétricas, quadros ou tubulações. É importante distanciar e revestir esses elementos para que o desempenho da vedação seja mantido ao máximo.
* Consultora de acústica no CTE, Andrea Destefani é arquiteta e urbanista formada pela Unicamp, com mestrado em Tecnologia de Edificações pelo IPT e MBA em gestão de negócios pela USP. Possui mais de dez anos de experiência profissional com foco em conforto ambiental para o ambiente construído.
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