A necessidade de agregar sustentabilidade e eficiência aos edifícios tem impulsionado transformações no mercado imobiliário. Movimentações importantes têm ocorrido entre diferentes agentes da cadeia da construção e, também, entre os bancos, que passam a ofertar produtos financeiros formatados para incentivar o desenvolvimento de projetos com certificações verdes. As iniciativas estão em linha com o movimento ESG (Environmental, Social, and Corporate Governance), que vêm norteando muitas práticas no mundo dos negócios.
O Itaú, por exemplo, trabalha com o Plano Empresário Verde, que oferece condições diferenciadas de financiamento aos empreendimentos comerciais ou residenciais certificados com o EDGE, do International Finance Corporation (IFC) do Grupo Banco Mundial. Seguindo rota semelhante, o Santander lançou uma linha de financiamento para construtoras e incorporadoras com vantagens para projetos residenciais certificados com os processos Aqua-HQE e GBC Brasil Condomínio. Com esse produto, as empresas podem financiar até 100% dos custos da obra, com liberação dos recursos a partir de 1% de conclusão do projeto, situação muito mais interessante do que a oferecida pelas linhas convencionais, cujo gatilho para acessar o capital é ter 10% da obra pronta.
Sandro Gamba, diretor de negócios imobiliários do Santander, explica que outra vantagem do novo financiamento é a possibilidade do repasse da carteira de financiamento dos clientes com 70% da obra concluída, enquanto no modelo tradicional isso só ocorre com a construção totalmente pronta. Isso permite ao incorporador quitar mais cedo o seu empréstimo, reduzindo encargos. Para o consumidor final, o financiamento verde também traz benefícios, como a contratação do empréstimo enquanto a obra ainda é finalizada, e não apenas após a entrega das chaves.
Certificação EDGE, AQUA e GBC Brasil
Na visão do executivo do Santander, o percentual de empreendimentos certificados deve conquistar cada vez mais participação nos financiamentos do banco. “É uma questão de redução de riscos, visto que empreendimentos certificados têm uma governança superior àqueles que não possuem selos”, analisa Gamba.
Extremamente simples e acessível, a certificação EDGE (Excellence in Design for Greater Efficiencies) foi criada em 2015 pelo Internacional Finance Corporation (IFC), órgão do Banco Mundial. Voltado para as nações em desenvolvimento, o sistema está presente em 150 países e é aplicável a todas as tipologias de projeto. Focado em energia, eficiência hídrica e materiais, o EDGE conta com o apoio de uma plataforma online que permite avaliar o impacto de cada solução no projeto. A certificação se viabiliza, inclusive, em empreendimentos de padrão econômico.
De origem francesa e abordagem mais ampla, a certificação AQUA-HQE volta-se tanto para o uso racional de água e energia, quanto para o conforto de usuários e comunidades vizinhas. No Brasil, o processo conduzido pela Fundação Vanzolini já referendou 749 edifícios, sendo 457 residenciais e 236 comerciais, desde 2008. Com requisitos distribuídos por 14 capítulos, a certificação prevê auditorias presenciais ao longo do desenvolvimento do projeto e da obra para analisar o atendimento aos critérios de sustentabilidade.
Com estrutura parecida com o LEED (Leadership in Energy and Environmental Design), o GBC Condomínio foi criado pelo GBC (Green Building Council) e é aplicável a novas construções de edifícios multifamiliares. A certificação visa reconhecer os projetos concebidos para oferecer custos operacionais mais baixos, aumento do valor patrimonial, redução de resíduos destinados a aterros sanitários, conservação de energia e água, além de ambientes mais saudáveis para ocupantes e diminuição das emissões de gases de efeito estufa. A depender da pontuação obtida, o empreendimento pode receber o selo em quatro níveis: Verde, Prata, Ouro e Platina.
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