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Mapas permitem visualizar o rastro de emissão de carbono do trânsito de São Paulo

28 de maio de 2023

Mapear as emissões de carbono decorrentes do transporte na cidade de São Paulo é um estudo em contínua evolução. Um trabalho, desenvolvido por Ulisses Alves de Castro, assistente de consultoria na Unidade Sustentabilidade do CTE, propõe uma forma diferente de visualização da temática. A simulação das emissões envolveu a manipulação e a análise de dados georreferenciados da Pesquisa Origem e Destino do Metrô-SP através de Python. Continue lendo e veja que interessante:

Analisando a emissão de CO₂ por modal de transporte

Um dos gases de efeito estufa mais recorrentes das ações humanas é o dióxido de carbono (CO₂). O trânsito é uma das principais atividades onde há emissão deste gás, uma vez que a maioria dos meios de transporte ainda realiza a queima de combustíveis fósseis para o deslocamento.

Tais emissões podem ser mensuradas a partir do valor absoluto por cada modal, mas também em montante de emissões em relação ao número de passageiros (kgCO₂/km/passageiro).

 

Não há dados abertos com informações precisas sobre todos os deslocamentos de veículos na cidade. Mas é possível fazer uma estimativa a partir da Pesquisa Origem e Destino do Metrô-SP aplicada na Região Metropolitana de São Paulo, através de questionários.

O trabalho traz informações como: motivo do deslocamento, ponto de origem e destino da viagem, modal utilizado para o transporte e características socioeconômicas do transeunte.  A pesquisa divide a região de São Paulo em 517 zonas.

Combinando as respostas do questionário e os dados geográficos das zonas, foi possível georreferenciar as respostas a partir da extração dos centroides de cada uma das zonas.

A leitura primária das emissões de CO₂ nos trajetos em São Paulo indica que, se levarmos em conta os valores absolutos de emissão, os trens apresentaram um valor maior de contribuição. 

No entanto, uma ponderação precisa ser feita: é remota a situação de um trem circular com apenas 1 ou 2 passageiros. Isso mostra a importância de considerarmos o número de passageiros na conta das emissões de carbono. Se um trem emite mais CO₂, também transporta significativamente mais passageiros por viagem.

Quando analisados os índices de emissão por passageiro é nítido que a maior parte da emissão provém de automóveis, cerca de 82%. O histograma de distribuição dos valores de emissão de CO₂/pass aponta que os automóveis também contabilizam mais viagens com valores consideravelmente maiores de emissão por passageiro.

 

Verificando a distância e a duração média das viagens, os automóveis apontam valores baixos em relação ao conjunto, apresentando viagens de cerca de 6 km e 30 minutos de duração. Já as viagens realizadas nos trens envolvem duração e distâncias maiores (cerca de 14 km). 

A performance das motos é consideravelmente melhor, uma vez que cruzam cerca de 8km. 

As viagens de ônibus têm, em média, a mesma distância percorrida dos automóveis, em uma duração de tempo maior.

Deve-se ponderar, contudo, que a distância percorrida e a duração do trajeto não são os fatores preponderantes na emissão de CO₂/pass, uma vez que os maiores emissores são automóveis, que apresentam um perfil de uso com ênfase em viagens rápidas e de curta distância. 

Considerando a emissão de CO₂/pass como variável resposta, sua correlação com as variáveis de distância (0.41) e duração (0.19) é relativamente baixa. A inspeção gráfica aponta alguma correlação com a distância percorrida, mas indica grande dispersão dos dados.

Mapeando o CO₂ nos trajetos

O mapeamento dos trajetos emissores de CO₂ foi realizado a partir da conexão entre os centroides das zonas de origem e destino de cada viagem, de modo a ser criada uma reta entre os dois pontos. O traçado obviamente é uma simplificação do trajeto realizado na viagem, mas ajuda a verificar as dinâmicas de emissão no trânsito da cidade. 

Para a definição do traçado foram criadas as variáveis ZONA_O_X, ZONA_O_Y, ZONA_D_X e ZONA_D_Y que contém as coordenadas dos centroides de cada forma.

O processo foi realizado por Python, onde foram extraídos os centroides do arquivo .shp, criadas as quatro variáveis de coordenadas para cada viagem e realizadas as retas.

Na visualização dos mapas, a largura da linha oferece alguma noção sobre a distância do trajeto, sua espessura indica a quantidade de CO₂/pass emitida na viagem e a concentração de cor aponta um maior número de viagens se cruzando naquela zona.

O mapa (acima) com todas as linhas de viagem (sem espessura por emissão), permite visualizar uma grande concentração das viagens na região central do município de São Paulo.

A visualização dos mapas a partir dos modos de transporte facilita a leitura e confirma o que a análise dos dados já havia indicado anteriormente: a emissão de CO₂ por viagens de automóveis é consideravelmente maior do que a de outros modais. As viagens realizadas desse modo têm uma conformação radial em relação ao centro do município de São Paulo e acontecem em grande quantidade, com emissões consideravelmente grandes em cada trajeto.

Vale notar que a maioria das viagens de automóvel ocorre entre a região central do município e as demais zonas dentro do raio de atendimento das linhas de trem e metrô. Ou seja, a grande maioria da emissão de CO₂ por automóveis ocorre em trajetos radiais de média distância que podem ser realizados a partir da infraestrutura de transportes municipais e estaduais.

Conclusão

O estudo evidencia a grande discrepância na quantidade e dinâmica de emissão entre cada modal. Análises ainda mais interessantes são possíveis, considerando a motivação das viagens, as condições socioeconômicas, a melhor descrição dos modais ou mesmo um refinamento nas geometrias.

Por hora, esse ensaio busca indicar um caminho de leitura possível, enquanto aponta que a diminuição da emissão de CO₂ no trânsito deve considerar modos de transporte mais eficientes e menos poluentes.

Esta é uma versão resumida do artigo elaborado por Ulisses Alves de Castro. Para ler a versão completa, inclusive com mais gráficos, acesse aqui.

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