Arquiteto
e urbanista, especializado em eficiência energética e conforto ambiental, Rafael Lazzarini é diretor da Unidade
de Sustentabilidade do CTE. Nessa entrevista, ele fala
sobre sua carreira e sobre como vem evoluindo
a sustentabilidade nas edificações no Brasil. Ele também conta sobre sua
ligação com a natureza e compartilha sua visão para o
futuro. Confira!
Você poderia comentar a sua trajetória profissional? É
verdade que a sua vocação para o trabalho com a sustentabilidade vem de berço?
Minha
família é composta por muitos agrônomos. Tenho avô, pai, mãe e
tios agrônomos. Meu pai foi para o lado ambiental e acabou construindo uma carreira política, sempre com a bandeira do meio ambiente. Hoje ele atua em consultoria ambiental. A minha mãe é uma das principais articuladoras da sociedade
civil pela criação do Código de Defesa do Consumidor. Ela dirigiu o Procon e
fundou, com outras lideranças, o Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do
Consumidor).
Com tantos agrônomos na família, você acabou
escolhendo a arquitetura como carreira?
Eu
sempre gostei de meio ambiente, mas também me interessava por arquitetura e por tecnologia. No princípio essas coisas pareciam
desconectadas. Quando entrei na faculdade em 1994, o tema sustentabilidade não
era tão abordado. Nós não éramos estimulados a pensar sobre os impactos das
decisões de projeto. Foi quando fiz a especialização sobre eficiência
energética que as coisas finalmente se encaixaram. Ali percebi que arquitetura,
tecnologia e meio ambiente são absolutamente integrados.
De que forma o CTE entrou na sua vida?
Eu abri
um escritório com dois sócios para desenvolver projetos sustentáveis. A gente queria certificar um projeto e entrou em contato com o
CTE. Pouco tempo depois, deixei essa sociedade porque o negócio não estava
dando muito certo. O pessoal do CTE, sabendo que eu já tinha especialização na
área, me convidou para integrar a equipe. Isso
foi em 2007. Quando cheguei, a unidade de
sustentabilidade era composta por seis pessoas. Vimos um crescimento
exponencial dessa área na sequência. Hoje
somos mais de 50 profissionais.
Como foi esse início?
Foi bastante desafiador. Durante
cerca de um ano e meio, tivemos que estudar profundamente os guias de sustentabilidade
para desenvolver as metodologias de trabalho e criar as
referências. No começo havia muito desconhecimento do mercado.
Questionava-se, por exemplo, sobre a aplicabilidade de normas internacionais no
Brasil. Conseguimos mostrar que essas referências tinham um embasamento técnico
importante e uma conceituação que poderia ser aplicada em todo lugar do mundo
com algumas adaptações. Os projetistas, por sua vez, foram percebendo que a
consultoria ajudava a melhorar o trabalho deles. O mercado amadureceu e várias
barreiras decorrentes da falta de conhecimento foram derrubadas.
Em que estágio estamos no Brasil com relação à sustentabilidade das
edificações?
Avançamos muito
quanto à tecnologia. Os softwares para análise e simulações, por exemplo, estão
muito mais acessíveis. Também evoluímos com relação às certificações. Se no
início o mercado estava restrito a edifícios comerciais, hoje já vemos
certificações voltadas para outras tipologias de projeto. Por outro lado,
faltam politicas públicas para incentivar soluções sustentáveis, como a energia
alternativa. Isso ajudaria bastante no payback
dessas tecnologias. Se a prefeitura criasse um incentivo para aumentar a área
de drenagem dos terrenos, ela renunciaria a uma parte do IPTU, mas economizaria
com a construção de piscininhas contra enchentes.
“Faltam politicas públicas para incentivar soluções sustentáveis, como
a energia alternativa. Isso ajudaria bastante no payback dessas tecnologias”.
O que mais te satisfaz no seu trabalho?
Gosto
de poder conciliar uma visão desenvolvimentista com o viés da sustentabilidade. Eu não concordo com essa ideia de
ou conserva, ou desenvolve. Uma coisa não joga contra
a outra. É desafiador, mas é bem possível ter desenvolvimento de forma
sustentável, com equilíbrio.
O que você gosta de fazer quando não está trabalhando?
Sou fã
de esportes de água, gosto de surfar e de windsurf. Também curto pedalar, fazer
trilha. No ano passado, comecei a jogar tênis. Eu adoro estar com
meus dois filhos. Ambos gostam de estar junto
à natureza e são bastante aventureiros.
O que você almeja para o futuro?
Acredito
na ideia de que as questões de desenvolvimento pessoal e profissional precisam estar alinhadas. Não faz sentido ser um super profissional
e ter a vida familiar e a saúde deterioradas. Eu acredito muito em um
desenvolvimento integral do ser humano, envolvendo trabalho, saúde e qualidade de vida. Aliás, a sustentabilidade está cada vez
mais voltada para isso.
O foco no bem-estar das pessoas é uma tendência?
A arquitetura
regenerativa é uma tendência forte. Falamos muito sobre reduzir impactos das nossas atividades
no ambiente, seja consumindo menos água, seja diminuindo a demanda por energia.
Mas essa é uma visão limitada da sustentabilidade. Em vez de buscar minimizar
impactos negativos, o foco deveria ser gerar impactos positivos. Estou falando
de uma arquitetura que contribua para regenerar espaços e que sirva de âncora
para o desenvolvimento do entorno. Esse parece ser o caminho.
“Em vez de buscar minimizar impactos negativos, o foco deveria ser
gerar impactos positivos. Estou falando de uma arquitetura que contribua para
regenerar espaços e que sirva de âncora para o desenvolvimento do entorno”.
Na Unidade de Sustentabilidade, você lidera
um grupo heterogêneo. Que conselho você pode dar
a essas pessoas, sobretudo para os jovens?
A gente
trabalha com uma diversidade de perfis e cada um contribui de uma forma. Os jovens, por exemplo, tendem a ter mais
facilidade para trabalhar com ferramentas digitais, enquanto os mais sêniores adicionam análise critica, resiliência e entendimento. O mais
importante é valorizar os aspectos positivos das pessoas e fortalecer as suas
potencialidades. Se eu fosse dar um conselho,
eu diria para as pessoas buscarem se autoconhecer e focar naquilo que elas
agregam mais valor. Identificando
preferências, potencialidades e habilidades é possível buscar uma carreira mais em sintonia com essas características.
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