Diretor da Unidade de Gerenciamento no CTE, Giancarlo De Filippi é engenheiro civil, mestre e doutor pela Escola Politécnica da USP. Possui MBA em Administração de Projetos pela FIA e 25 anos de experiência no mercado da construção. Nessa conversa, ele nos conta sobre sua jornada profissional que inclui mais de duas décadas de atuação no CTE. Você saberá mais sobre alguém que nunca parou de estudar, que é apaixonado por obras e que tem muita aptidão para compartilhar conhecimento. Confira!
Conte-nos
um pouco sobre sua trajetória profissional. O que te levou à engenharia?
Meu pai também era engenheiro, mas eletricista!
Aquela pessoa que não contrata ninguém para fazer qualquer reparo em casa. Eu
cresci ajudando-o a consertar e reformar coisas, colocando a mão na massa.
Também sempre fui fascinado por obras, sejam da antiguidade, desde as pirâmides
maias e egípcias, das cidades incas e greco-romanas, até as atuais mega obras
da China e do oriente médio, algumas delas que tive o prazer de visitar. Desde
pequeno, quando ia para a praia, por exemplo, ficava admirado com a Rodovia dos
Imigrantes, imaginando como era possível fazer aquilo? Obra extraordinária de
uma época de ouro da engenharia brasileira! Na escola, eu era muito bom em
matemática e física. Adorava enigmas, charadas, lia os livros do Malba Tahan. Acho
que foi uma escolha natural. Nunca imaginei fazer outra coisa que não
engenharia.
Você
fez Poli-USP, certo?
Sim. Quando chegou a fase do vestibular,
decidi que só iria prestar nas faculdades que eu queria fazer, custe o que
custasse! A Poli era uma delas, e foi onde meu pai e meu padrinho haviam se
formado, seria uma honra seguir estes passos. Estudei muito, mas muito mesmo! Uns
dois anos que abdiquei de muita coisa da minha juventude. Quando entrei,
procurei antecipar algumas matérias para ter tempo livre para trabalhar, pois a
carga horária era grande. No segundo ano comecei uma bolsa de iniciação
científica e no terceiro, comecei a estagiar em uma construtora. Finalmente
estava trabalhando em uma obra!
Como
foi essa experiência?
Comecei em uma construtora pequena, em
Barueri, e eu adorava. Era obra real, de subir na laje, conferir armação,
receber o concreto, programar as equipes. Mas uma das coisas que tenho mais
saudades era de estar próximo do pessoal de campo. Apesar do canteiro parecer
um ambiente duro de trabalho, o clima normalmente é ótimo, para não dizer
divertido, cada história … E quando você conhece a realidade de cada um,
percebe como é abençoado! Em uma ocasião, quando estávamos entregando uma obra,
um encarregado me chamou e pediu para tirar uma foto comigo. Achei estranho,
pois naquela época não havia tanta selfie como hoje!! Ele falou que um dia eu
iria me formar, virar “doutor”, chefe, e talvez me esquecesse dele. Mas quando
me encontrasse novamente em outro projeto no futuro, iria me mostrar aquela
foto de quando eu ainda saía do trecho sujo de graxa e concreto! Aquilo me
marcou.
Quais
foram os seus passos seguintes?
Eu sempre gostei de obras mais complexas e
consegui uma oportunidade em uma grande empreiteira, a Carioca Engenharia. Eles
estavam entrando forte no mercado de São Paulo e fui trabalhar na construção de
uma adutora em São Bernardo do Campo. Eu gostava tanto desse universo que,
durante os períodos de férias, quando não tinha aula, conseguia uma autorização
do meu diretor para ficar um tempo em uma obra diferente, estrada, túnel, o que
for, no Rio de Janeiro ou no Nordeste. Eu precisava ter essa vivência e
aprender. Ainda nessa construtora, fui deslocado para atuar na área de
qualidade, garantindo as certificações da empresa. Foi quando descobri outra
área que me identifiquei, administrando treinamentos e fazendo auditorias nas
obras da empresa. Quando a empresa decidiu que não manteria mais canteiros em
São Paulo, tive que decidir entre procurar uma colocação no escritório do Rio de
Janeiro ou ser alocado em outra obra fora daqui. E conversando com o meu
diretor, Claudio Castro, que tinha uma relação muito próxima com o Roberto de
Souza, ele comentou que o CTE estava procurando consultores na área de
qualidade. Poderia ser uma alternativa. Me interessei bastante.
Como
foi sua entrada no CTE?
Levei meu currículo pessoalmente no escritório que ficava em uma casa no Brooklyn. Naquela época, não tinha essa de enviar por e-mail! Por coincidência, a diretoria estava em reunião naquele momento, exatamente discutindo a necessidade de se contratar um novo consultor. Vocês sabem como o Roberto é nestas questões místicas, energias, coincidências .. Então a secretária pediu para que eu aguardasse, queriam falar comigo. Meu plano era apenas entregar o currículo, mas eu fui entrevistado naquele mesmo dia. Eu estava iniciando um mestrado na Poli, o que também era um ponto importante para o CTE. Na semana seguinte, eu já estava trabalhando, fazendo auditorias com a Márcia Menezes (hoje, Diretora da Unidade Inovação e Tecnologia no CTE). Por cerca de dez anos atuei na implantação de programas de qualidade e certificação, viajando o país todo. O CTE estava crescendo e uma das estratégias adotadas foi a criação de Unidades de Negócio, uma delas, focada em atividades de planejamento e gestão de projetos e obras. Para aprender mais sobre a área e sobre este negócio, resolvi iniciar um MBA em Administração de Projetos e atuar fortemente em gerenciamento, até hoje.
Paralelamente
você foi desenvolvendo uma carreira acadêmica, certo?
Sim, sempre estive próximo da academia. Quando
terminei o MBA, busquei uma vaga como professor. Comecei a dar aula no Cefet
(hoje Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia), em cursos técnicos
e na graduação. A experiência foi incrível, foram anos de muito aprendizado.
Mas minha vida pessoal ficou uma loucura. Eu dava aula à noite e trabalhava no
CTE durante o dia. Minha filha tinha dois anos e começou a sentir minha falta.
Precisei diminuir o ritmo. Deixei o Cefet, mas consegui uma oportunidade para dar
aulas na pós-graduação da Poli, que tem uma carga-horária menor. Estou lá há 9
anos. Neste meio tempo consegui finalizar meu doutorado e, desde 2018, passei a
ministrar também em um curso de pós graduação da Faap (Real Estate &
Construction Management).
Como
é estar no CTE há tanto tempo?
O CTE é muito dinâmico e está sempre se
transformando, desenvolvendo outras atividades e focos de atuação. Isso é
bastante estimulante. Além disso, estamos sempre à frente do que acontece no
mercado e temos muita liberdade para inovar. Fazemos a diferença em um setor
que talvez seja muito conservador, e precisa se modernizar, sempre com ética e
competência. Muitas pessoas me perguntam isso, como é estar na mesma empresa há
20 anos. Eu respondo sempre que na verdade o CTE nunca foi o mesmo em todo este
tempo, então no fundo, estou mudando de empresa a todo o momento!
“O CTE é muito dinâmico e está sempre se transformando, desenvolvendo outras atividades e focos de atuação.”
Quais
são os maiores desafios nesse trabalho?
Esta diversidade de projetos e clientes
gera a necessidade de um entendimento de mercado muito amplo. Saber as
especificidades e o que agrega valor para cada tipo de cliente. Cada projeto no
CTE é único. Outro ponto que nos desafia todos os dias é entender as demandas e
ansiedades de uma equipe também bastante heterogênea. O alinhamento de
propósito está claro para todos e não falta comprometimento. Mas, em um time
muito grande (o CTE tem hoje cerca de 150 colaboradores, na sua maioria de nível
superior, mais de 60 somente na Unidade de Gerenciamento) encontramos perfis
bastante diversos. Há desde aqueles que precisam de uma rotina estruturada aos
que não querem rotina nenhuma. Além disso, precisamos fazer a conexão entre uma
liderança que é extremamente inovadora e ágil, com clientes que, muitas vezes,
têm um viés mais conservador.
Você
poderia dar alguma dica ou recomendação para os jovens profissionais que
almejam sucesso nesse mercado?
O meu conselho é tentar conciliar estudo,
trabalho e lazer. Para a geração dos meus pais, havia uma etapa para aprender,
outra para trabalhar e uma última para desfrutar. Hoje o contexto é outro.
Precisamos estar constantemente estudando. No meu caso, por exemplo, mesmo com
todos os meus cursos e títulos, tenho muito o que aprender, senão não acompanho
a evolução cada vez mais rápida do mercado, tecnologias e conceitos. A menos
que você seja muito rico, também não há a segurança de um futuro tranquilo,
mesmo após muito trabalho. Não temos mais a garantia de uma aposentadoria, como
no passado. Então parece que vamos ter que trabalhar sempre. Então a saída é
desfrutar a vida simultaneamente, enquanto estudamos e trabalhamos. Pode
parecer difícil, mas se você trabalhar naquilo que ama, naturalmente terá muito
mais empenho e entusiasmo. Assim fica mais fácil o sucesso aparecer.
O
que você gosta de fazer quando não está trabalhando?
Tenho uma filha de 13 anos que é a minha
paixão. Sempre que tenho oportunidade, quero estar com ela, passeando, andando
de bike ou outros esportes junto à natureza. Ela também é minha companheira em
museus e exposições, já que ambos adoramos história. Gosto muito de música, toco
violão e gaita. Ajuda muito nos momentos de estresse. Sou muito caseiro, gosto
de curtir minha casa, com minha esposa e minha filha, e degustar um bom vinho com
os amigos, em especial os italianos de Bolgheri. Quando posso, mesmo sozinho, dou um jeito de viajar para lugares
históricos, de preferência onde possa visitar sítios arqueológicos, muitas
vezes até aquelas grandes obras históricas que comentei antes. Um momento de
contemplação, retiro e até mesmo para elevar a espiritualidade.
“Esta diversidade de projetos e clientes gera a necessidade de um entendimento de mercado muito amplo. Saber as especificidades e o que agrega valor para cada tipo de cliente.”
O que
você espera para os próximos anos?
O CTE continuará se reinventando. E a
Unidade de Gerenciamento deve acompanhar esta evolução da sua maneira. Estamos
ampliando ainda mais nosso escopo de atendimento, diversificando ações junto
aos clientes e nos aprofundando em temas como Lean Construction, Design Thinking
e ESG (Environmental, Social and Corporate Governance). Penso em avançar um
pouco além de minhas funções executivas, me tornando um pouco mais empreendedor
e cada vez mais empresário. Os próximos anos devem ser promissores para o
setor, e precisamos estar muito atentos em como aproveitar as oportunidades e o
círculo virtuoso que se imagina!
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