Com aplicação crescente entre as construtoras brasileiras, o lean construction (ou construção enxuta) vem se destacando entre as metodologias de gestão por aliar simplicidade de aplicação a resultados concretos e rápidos.
Quando bem aplicado, o lean construction pode aumentar a produtividade, reduzir custos, evitar atrasos e, consequentemente, aumentar o nível de satisfação dos clientes.
Quer saber mais sobre essa filosofia? Então, siga conosco:
O que é o lean construction?
De acordo com definição do Lean Institute Brasil (LIB), o lean é uma maneira de fazer gestão que visa aperfeiçoar a entrega de valor para os clientes através da contínua eliminação dos desperdícios.
A ideia é consumir o mínimo de recursos e utilizar ao máximo o conhecimento e a habilidade das pessoas envolvidas com o trabalho. O lean construction é aplicável a empresas de diferentes setores da economia.
No caso da construção civil, o pensamento enxuto pode gerar resultados positivos tanto nos canteiros, quanto nos escritórios de engenharia, passando por todas as áreas de apoio, como projetos, suprimentos, orçamentos e planejamento, auxiliando a organização do fluxo e a passagem de informações.
Qual é a origem do lean construction?
O termo “lean” passou a ganhar destaque no mundo dos negócios após ser citado no best seller “A Máquina que Mudou o Mundo”, de James P. Womack, Daniel T. Jones e Daniel Roos.
O trabalho é resultado de uma extensa pesquisa realizada pelo MIT (Massachusetts Institute of Technology) sobre a indústria automobilística, em especial, sobre o Sistema Toyota de Produção.
Na construção civil, a filosofia lean começou a ser debatida em 1992, quando o professor Lauri Koskela adaptou os princípios do Sistema Toyota para a realidade dos canteiros de obras e publicou um estudo com grande repercussão no meio acadêmico.
Dois anos depois surgiu o lean construction institute nos Estados Unidos e, rapidamente, a construção enxuta se espalhou pelo mundo.
Qual é a finalidade do lean construction?
O pensamento enxuto busca identificar e eliminar todo e qualquer tipo de desperdício, especialmente aqueles que estão atrelados aos processos.
A metodologia combate perdas de tempo causadas por movimentações e transportes desnecessários, por estoques excessivos e pela espera por materiais ou liberação de frentes de serviços, por exemplo.
Segundo a engenheira Juliana Pasotto, gerente de contratos na unidade de Gerenciamento do CTE, o lean encontra bastante aderência em um contexto como o atual, em que se tornou imperativo alavancar a produtividade e reduzir perdas.
“Com o lean, conseguimos ganhos com mudanças simples”, disse Pasotto, durante esta live que é parte da Série Diálogos com a Construção.
Ela citou, como exemplo, uma situação comum e desgastante para as construtoras que é ter que solicitar aos empreiteiros a colocação de mais efetivo em campo.
“Quando enxergamos a produtividade, temos a oportunidade de perceber que a solução mais eficaz pode não ser colocar mais pessoas no canteiro, mas alterar os processos e as rotinas”, comentou.
Como o lean construction funciona?
Para auxiliar a implementação do lean construction, são combinados vários conceitos e ferramentas, que precisam ser escolhidos em função das particularidades de cada empresa. De modo geral, os instrumentos mais utilizados pelas construtoras são:
- Kanban — Consiste no uso de cartões que registram a liberação de um serviço ou a retirada de materiais.
- Logística puxada — Se dedica à busca pela melhor organização ou disposição de vários recursos produtivos como máquinas, equipamentos, instalações e pessoal.
- Kaizen — É a melhoria contínua de uma atividade. O conceito foca na eliminação de perdas ou de falhas no processo, com identificação de problemas e contramedidas de forma inclusiva.
- Gestão visual — Consiste em expor problemas, ações, metas e níveis de desempenho de todo o processo, democratizando a informação e promovendo a proatividade da equipe envolvida. Uma maneira de aplicar a gestão visual é elaborando listas de verificação (checklists).
- Programa 5 S — Sistema para organizar os espaços para que o trabalho possa ser realizado de forma eficiente, eficaz e segura.
Quais são os benefícios do lean construction?
Quando aplicado com consistência, o pensamento enxuto pode proporcionar uma série de ganhos às empresas da construção civil. Entre eles:
- Ganhos de produtividade da ordem de 30% a 80%, segundo dados do LIB.
- Otimização de processos e eliminação de tarefas desnecessárias;
- Redução de custos diretos e indiretos;
- Abreviação de prazos de execução;
- Ganho de qualidade dos produtos;
- Otimização das movimentações no canteiro;
- Maior sustentabilidade ambiental decorrente da redução de desperdícios de materiais e de recursos naturais;
- Afinidade com o movimento ESG (Environmental, Social and Governance). Além da questão ambiental, a governança das empresas que adotam o lean melhora por conta do uso de métodos de gestão mais transparentes e racionais. Também há um forte componente social na filosofia enxuta ao melhorar o ambiente de trabalho e dar mais visibilidade aos profissionais que estão nas frentes de serviço.
Para saber mais sobre ganhos concretos obtidos pela implantação bem-sucedida do lean, leia essa matéria com relatos das construtoras MBigucci, MRV, RPS, Passarelli e ForCasa.
Quais são os benefícios do lean construction?
O pesquisador Lauri Koskela definiu 11 princípios para orientar a aplicação do pensamento enxuto nas empresas da construção civil. São eles:
- Reduzir atividades que não agregam valor ao produto. O objetivo é eliminar, de forma inteligente, etapas desnecessárias ou repetitivas ao longo do processo produtivo.
- Aumentar o valor agregado do produto em função das necessidades do cliente.
- Diminuir a variabilidade dos produtos/ entregas.
- Reduzir o tempo de ciclo de produção.
- Simplificar o processo com a diminuição do número de passos ou partes.
- Aumentar a flexibilidade do produto, tornando-o mais customizável.
- Aumentar a transparência do processo. Quanto mais transparente for a gestão de obras em todas as etapas, mais simples será a comunicação e menores serão as chances de falhas.
- Controlar o processo global, e não somente as suas partes.
- Introduzir melhoria contínua.
- Balancear as melhorias entre o fluxo e as conversões.
- Aplicar benchmarking para acompanhar constantemente as melhores práticas do setor.
Quais são as diferenças entre a construção enxuta e a construção tradicional?
Quando comparamos o modo de produção convencional e o lean construction, identificamos diferenças importantes. A primeira delas é na forma de planejar a obra.
No modo tradicional, as atividades vinculadas são estruturadas de maneira independente. Desconsideram-se a variabilidade e são adicionadas margens de segurança. O trabalho de gestão foca em resolver os problemas gerados pelo não cumprimento do plano de execução e em replanejar. É o famoso “apagar incêndios”.
Já com o lean construction, o planejamento foca em garantir que o fluxo seja contínuo, eliminando rapidamente as restrições que podem impedir que as atividades ocorram adequadamente. Assim, naturalmente, os serviços serão cumpridos e os prazos previstos serão alcançados.
Outra diferença diz respeito à abordagem de melhoria. Após prover a estabilidade básica e buscar a melhor forma de executar, o lean identifica almeja a melhoria identificando as causas de problemas e realizando ações, como um grande ciclo PDCA (Plan-Do-Check-Act ou Planejar-Fazer-Checar-Agir, em português).
Conclusão
Um ponto interessante é que não é preciso promover uma revolução interna para implantar o lean construction. Com pequenas ações é possível obter resultados positivos, criando um círculo virtuoso de engajamento interno.
No entanto, o pensamento enxuto exige uma mudança de mentalidade e disciplina. Apenas a introdução de algumas ferramentas não significa, necessariamente, sucesso na implementação.
Para auxiliar as empresas nessa jornada em busca por eficiência e produtividade, o CTE desenvolveu o projeto lean naconstrução, em parceria com o Lean Institute Brasil. Trata-se de uma consultoria de aplicação prática direcionada para construtoras.
Mais de 20 empresas, de diferentes portes e localidades, já participaram desta iniciativa que prevê a aplicação de práticas lean em uma obra-piloto e a capacitação dos colaboradores. Para mais informações, clique aqui.